Pastor é profissão? (CC)

(Poderá “clicar” no que estiver em azul, sublinhado, para ter acesso aos textos)

 

 

1. Introdução  (a)

 

Inicialmente, lembrei-me somente de divulgar a notícia da decisão dum Tribunal brasileiro, que me foi enviada pelo irmão Paulo Rogério Pires de Miranda, que consta do artigo Pastorado com vínculo laboral? cuja leitura recomendo. Enviei a notícia para alguns crentes em Portugal, nomeadamente Pastores.

Mas, penso que é pertinente a afirmação do Pastor Manuel Pedro Cardoso, no seu artigo Pastorado: Profissão e vocação (MC), que o assunto “justifica uma reflexão”, pelo que resolvi publicar na nossa página quer a decisão desse Tribunal, quer os comentários do Pastor Cardoso. Assim, aconselho a ler primeiro esses dois artigos, para melhor compreender o que direi a seguir.

A questão principal, se o pastorado gera “vínculo empregatício”, não pode ser dissociada de outra pergunta: Será o pastorado uma “profissão”? O problema pode ser abordado de várias formas, quer num contexto de direito brasileiro, ou de direito português, ou de outros países, quer num contexto de teologia, ou mais concretamente no contexto cultural e teológico das várias igrejas ou até das várias religiões, pois sempre se poderá colocar a questão se o dirigente religioso, de qualquer religião, é um profissional que tem direito a reivindicar o seu salário. O Pastor Cardoso foi bem claro, logo no início do seu artigo ao afirmar que se exprimia “… numa perspectiva bíblica e teológica…”. 

Será muito difícil encontrar um consenso entre todos, pois lidamos com palavras que têm significados diferentes num contexto de direito, ou de teologia, não esquecendo que os vários países têm as suas leis laborais, assim como nas várias igrejas, as palavras nem sempre têm rigorosamente o mesmo significado, a começar pela própria palavra “igreja” e quem a representa. Assim, para um católico, o Papa é o máximo representante da sua igreja, para o Pastor Cardoso, como presbiteriano, é o Conselho da Comunidade (aqueles que todos os membros dessa Comunidade elegem periodicamente para a governar e representar), para um batista, será a Assembleia da sua igreja etc.

 

 

2.1. Num contexto de Direito.

 

Não temos formação em Direito, mas dentro das nossas possibilidades, procurámos investigar o que diz a legislação, esperando que os especialistas no assunto nos esclareçam melhor.

 

 

2.2. No Brasil

 

Para o Tribunal brasileiro, O art. 3º da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho – Decreto-Lei 5452 de 1º Maio 1943) define o empregado como: “toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”.

 

 

2.3. Em Portugal

 

Apresentamos as principais leis em vigor, para quem desejar aprofundar o assunto:

 

Lei 99/2003 de 27 de Agosto

http://www.portaldocidadao.pt/NR/rdonlyres/52BCB891-6A7E-47E2-AC4F-AC201AB01E68/0/Lein9920031.pdf

 

Lei 35/2004 de 29 de Julho

http://www.portaldocidadao.pt/NR/rdonlyres/C017D4EB-37BC-4A20-8B41-FAC2BC21B997/0/Lein3520041.pdf

 

Lei 9/2006 de 20 de Março

http://dre.pt/pdfgratisa5/2006/03/056A00.pdf

 

Contrato efectivo ou a termo

http://expressoemprego.clix.pt/scripts/indexpage.asp?headingID=3701

 

Para quem não tiver formação em direito, como é o meu caso, podemos resumir afirmando que para haver contrato de trabalho é necessário que o prestador:

1) Esteja na dependência do beneficiário da actividade.

2) Esteja inserido na estrutura organizativa do beneficiário da prestação da actividade.

3) Realize a sua prestação sob ordens e fiscalização do beneficiário da prestação da actividade.

4) Receba uma remuneração pela sua actividade.

 

 

2.4. Conclusão

 

Embora o Tribunal tenha de decidir de acordo com a legislação do país, penso que cabe à teologia definir o que é o “pastor” e qual o contrato que a entidade empregadora, neste caso a “igreja”, deseja celebrar com o seu pastor.

Afinal, a noção do que seja o empregado e a respectiva entidade patronal, em Portugal, é muito semelhante ao que se passa no Brasil.

Mas estas definições, que em teoria parecem muito claras, suscitam-me algumas dúvidas, pois a dependência do trabalhador em relação à entidade empregadora, embora seja sempre uma realidade, nunca é uma dependência a 100%.

Este é, por exemplo, o caso do gestor ou do contabilista, que além das instruções da entidade empregadora, tem de obedecer à legislação do seu país, ou um profissional de construção civil, quer seja arquitecto, engenheiro, canalizador ou pedreiro, tem de obedecer às normas e legislação da actividade que desempenha, ou o motorista que não pode pegar numa viatura que não esteja em condições de circular, mesmo que receba ordens da entidade empregadora para tal, etc.

Concordo que, como diz o Pastor Cardoso no artigo que citámos, a relação entre igreja e pastor, não pode ser vista como uma orientação do tipo “entidade patronal - trabalhador”, que pelo contexto dessa afirmação, julgo referir-se a uma obediência cega do pastor à Direcção da sua igreja, o que também considero inaceitável. O pastorado é ao mesmo tempo vocação e profissão. Mas penso que esse é um caso entre muitos outros que já mencionámos, pois em todas as profissões há uma certa subordinação à entidade patronal, que nunca é a 100%. Todos poderão dizer que se consideram vocacionados para a sua profissão, se a exercerem com dedicação. Todas as profissões têm as suas especificidades e os seus bons e maus profissionais. Não é tão fácil definir onde está essa “fronteira”, ou em que é que o pastor deve obedecer à Direcção da sua igreja ou hierarquia, se houver, e em que casos essa obediência não é aceitável. Talvez seja fácil apresentar exemplos, mas sem uma nítida definição teórica dessa “fronteira” que parece bem difícil de se definir e tem criado sérios atritos em quase todas as igrejas. É grande o número de pastores e leigos que são afastados por não seguirem a orientação da hierarquia das igrejas e por divergências doutrinárias, mas isso também acontece no catolicismo como foi o caso bem recente do jesuíta Jon Sobrino afastado, da Universidade Centro-Americana (UCA) onde leccionava, pela Congregação da Doutrina da Fé, por realçar a humanidade de Cristo e não a sua divindade. 

Por aquilo que li, sou tentado a apoiar a decisão do Tribunal brasileiro, não só, raciocinando num contexto secular, mas principalmente, num contexto de teologia neotestamentária.

No caso dum sacerdote católico, ainda poderia ter dúvidas, pois o sacerdote católico, julgo que esteja na dependência da sua hierarquia, está profundamente inserido na estrutura organizativa do beneficiário da actividade (a sua igreja), recebe ordens ou pelo menos orientações do seu bispo e é remunerado pela Igreja Católica. Julgo ter condições para ser considerado trabalhador da sua igreja.

No caso a que se refere a notícia que recebemos do Brasil, não me posso pronunciar, pois refere-se simplesmente a “pastor evangélico”, e não sei qual a igreja a que ele servia, nem qual a sua teologia, embora me incline a dar razão ao Tribunal. Se, de acordo com a legislação dos vários países, todos são livres para efectuar os contratos que entenderem, desde que não contrariem as leis em vigor, parece que temos de “voltar à teologia” para ver o que é um “pastor”.

 

 

3.1. Num contexto de Teologia

 

Num contexto de teologia bíblica, há dois pontos de vista opostos.

No Velho Testamento, o sacerdócio era hereditário e exclusivo da tribo de Levi. Os levitas viviam do dízimo dos produtos do trabalho das outras onze tribos de Israel.

O Novo Testamento não apresenta nenhuma tabela salarial, dos pastores, como acontecia no Velho Testamento. No entanto, temos algumas passagens onde o pastor pode ser incluído, como Lucas 10:7 e Timóteo 5:17/18 que estão em sintonia com a afirmação do desembargador Heriberto de Castro. Também penso que não se trata de salário no sentido jurídico do termo, mas sim duma contribuição voluntária e espontânea, para ajuda aos que anunciavam a mensagem e não exclusiva dos pastores. Bem sei que a realidade dos nossos dias é um pouco diferente devido ao afastamento dos métodos neotestamentários da maioria das igrejas protestantes dos nossos dias.

Mas, muitas outras questões poderiam ser levantadas em relação aos argumentos do pastor que pretendia um vínculo empregatício da sua congregação:

Ele alegou: «que exercia o seu ministério de pastor com todos os requisitos da relação de emprego, pois a prestação desse serviço era pessoal, habitual, subordinada e onerosa, com jornada das 08 às 22 horas, todos os dias da semana, inclusive sábados e domingos

Por aquilo que vejo no Novo Testamento, tenho de concluir que ele não fez mais que a sua obrigação Lucas 17:10. Ele fez o que é obrigação não só do pastor, mas de todo o crente.

Por que razão o presbítero, ou diácono, ou outro crente com preparação teológica, deve estar sempre disponível para pregar, ensinar e efectuar todos os trabalhos, sem nada receber (aliás, terá ainda de contribuir), mas se for pastor, exige o seu salário, que é negado aos outros pregadores e obreiros?

Pelas informações que temos, só sei que isto aconteceu em Minas Gerais. Não sabemos qual a igreja nem que tipo de pastor é este. Diz que deixou o seu antigo emprego para ser pastor, mas nada consta da sua preparação teológica e secular.

Embora haja verdadeiros pastores no Brasil, e conheço dois ou três que vieram para Portugal, grande parte dos “pastores” no Brasil, nem têm a nossa escolaridade mínima em Portugal, e muitos têm esses cursos de “teologia” de cinco meses, que normalmente são frequentados por jovens desempregados que não estudaram por não querer ou por não poder. Será esse tipo de pastor, o “trabalhador digno do seu salário” a que Paulo se refere na sua carta a Timóteo?

Bem sei que alguns fazem trabalho útil, com dedicação e humildade. Mas no caso presente, dum pastor que vai a Tribunal reivindicar os seus “direitos”, certamente depois de muitas reivindicações na própria igreja!!! Se eu fizesse parte da direcção dessa igreja, não teria dúvidas em propor a imediata substituição desse pastor por outro mais fiel ao pensamento do Mestre.

 

 

3.2. O que é um Pastor?

 

Embora aceite o termo de “pastor”, como significando uma função nas igrejas protestantes e evangélicas dos nossos dias, não me parece que haja boa base bíblica neotestamentária para definir o que seja o cargo de “pastor”.

Essa palavra aparece várias vezes no Novo Testamento, quase sempre referindo-se ao pastor das ovelhas. Algumas vezes, Cristo serve-se dessa alegoria para expressar o que deve ser o crente com responsabilidade nas igrejas. 

Não vamos mencionar as passagens que se referem aos pastores do campo, sem nenhum outro significado, como no caso dos vulgares pastores a quem os anjos apareceram quando Jesus nasceu. Mas vejamos as seguintes passagens.

Mateus 9:36 É uma alegoria em que se compara o pastor das ovelhas à acção do pastor na igreja.

João 10:1/16 Esta é a principal passagem, em que Cristo se identifica como o Pastor das ovelhas e a Porta do aprisco das ovelhas. Enquanto o verdadeiro pastor dá a sua vida pelas ovelhas, o mercenário foge quando há perigo, ou como diríamos nos nossos dias, quando o dinheiro da igreja se acaba, ou outra igreja que lhe oferece melhor salário.

Mateus 25:32, Mateus 26:31, Hebreus 13:20, 1ª Pedro 2:25, 1ª Pedro 5:4 Onde vemos Cristo como o Pastor da Igreja

Efésios 4:11 Esta passagem refere-se nitidamente ao cargo de pastor na Igreja.

Judas 1:12 Refere-se aos falsos pastores.

Podemos também examinar o que as Escrituras nos dizem sobre “pastorear” ou “apascentar”.

Mateus 2:6 Refere-se a Cristo como Pastor do povo de Israel.

1ª Pedro 5:1/2 Pedro incentiva os anciãos como ele, a apascentar o rebanho do Senhor.

 

Podemos concluir, que não há uma definição com rigor jurídico, do que seja um “pastor” numa igreja cristã. Inicialmente, era uma simples alegoria, em que Cristo se comparou a Ele próprio com um pastor.

Já durante época dos apóstolos, o termo “pastor”, foi aplicado aos dirigentes das igrejas, mas certamente sem a pesada carga teológica que adquiriu através dos tempos.

O apóstolo Pedro, na última passagem que mencionámos (1ª Pedro 5:1/2), é bem claro ao afirmar:

1. Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo eu, que sou ancião com eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e participante da glória que se há de revelar:

2. Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade;

Pedro não se apresenta com qualquer privilégio da sua parte, mas ele se identifica como simples ancião (ou presbítero), assim como muitos outros que havia certamente em todas as igrejas do primitivo cristianismo. Ele incentiva os anciãos, ou idosos, ou pessoas experientes a apascentar, ou pastorear o rebanho de Deus. Assim, Pedro considera todos os crentes, experientes e aptos para o ensino, como pastores.

 

 

4. Desvios dos ideais do Mestre

 

 

4.1. Pastor “Dono da igreja”

 

Não podemos ignorar o que se passa nas pequenas igrejas do interior do Brasil, onde a realidade é bem diferente da teoria, e me é difícil imaginar a situação do pastor na dependência da igreja a quem “serve”, pois em muitas dessas igrejas o “pastor” é que tudo decide e não dá satisfação a ninguém, nem no aspecto económico. Já são conhecidos em todo o mundo os escândalos de corrupção que têm abalado algumas igrejas evangélicas brasileiras, mas convido a ler o artigo do irmão Alex Abuso espiritual (AX), que nos dá uma “imagem” da realidade na maior parte das igrejas evangélicas no Brasil, onde o pastor se comporta como Senhor absoluto e os crentes são simples “matéria-prima” para serem explorados. Infelizmente esta é a realidade na maior parte das igrejas protestantes do tipo “evangélico”, no interior do Brasil.

Várias vezes tenho recebido mensagens pela internet, de “pastores evangélicos” brasileiros que afirmam estar prontos a sacrificar-se a deixar o seu país, para virem evangelizar Portugal ou qualquer outro país da Comunidade Europeia. Mas, quando lhes pergunto se têm alguma profissão secular e qual a sua preparação cultural e teológica, geralmente nunca mais me respondem.

Tudo isto são as tristes consequências de se considerar o pastor como o profissional da religião, o dono do púlpito (por vezes constrói-se outro púlpito mais pequeno para os leigos), o homem que “percebe de religião”, reduzindo os crentes a simples ouvintes passivos do que o pastor disser do “alto do púlpito”. Assim, o púlpito acaba funcionando como uma espécie de “Diário da República” (b) onde é proclamada a verdade oficial da igreja, que adquire uma certa “infalibilidade”, quando proclamada “do alto do púlpito”.

Penso que isso são consequências do afastamento dos ensinos do próprio Apóstolo Pedro em Pedro 5:1/2, que se considerava um ancião como muitos outros. Se o pastor se considera um profissional da religião, pago pela igreja, é natural que se sinta de certa maneira pressionado a “mostrar o seu trabalho”, sendo ele o “professor de Escola Dominical”, o único pregador, e o director disto e daquilo, atitudes que os chamados “leigos” aceitam por comodidade, reduzindo-se a simples assistentes do “profissional” a quem pagam para tudo fazer.

 

 

4.2 Pastor servo (ou escravo) da sua igreja

Mateus 4:8/9

 

Certo dia, no ano passado, recebo uma mensagem dum pastor que me disse:

«Acabo de ler os artigos que o irmão tem sobre a obrigatoriedade do dízimo nos nossos dias (c), e lembrei-me de que já há muitos anos, quando era jovem estudante interno no Seminário, manifestei as minhas dúvidas sobre este assunto, quando estava com os meus colegas no dormitório dos estudantes. Eles olham-me admirados e dizem: “nem penses em levantar essa questão”, “se tens dúvidas nisso, prepara-te para repetir todas as disciplinas até que te convenças de que o dízimo está em vigor, ou procures outra profissão”, “não te esqueças de que vais ser pastor, e dessa doutrina depende a tua prosperidade”. Eu, calei-me, o tempo passou, e agora com família para sustentar e filhos a estudar, sem ter uma profissão secular, nada mais me resta senão continuar a pregar as doutrinas da minha igreja

Não nos compete julgar estes casos, mas temos de ser firmes no verdadeiro Evangelho e compreensivos para estes casos. Há “multinacionais de evangelismo” (a quem muitas igrejas sacrificam os seus jovens, esquecendo-se de que a evangelização é direito e dever inalienável das igrejas), que para os seus “cursos de teologia de cinco meses”, preferem os jovens com menos preparação, pois esses são os mais fiéis. Assim, muitos se tornam “missionários” ou “pastores”, sem uma verdadeira vocação, somente como uma alternativa ao desemprego no Brasil. Certamente que esses, serão os mais fiéis a essas organizações, pois bem sabem que “fora dessa organização religiosa não há salvação”. Mas refiro-me a “salvação profissional” ou “salvação económica”, pois ficam sem uma profissão com que possam sobreviver no mundo do trabalho e sem suficiente preparação teológica para serem aproveitados por outras igrejas. Satanás oferece prosperidade, como vimos em Mateus 4:8/9 e geralmente ele até cumpre o que promete, mas não larga facilmente aqueles que optam pela sua “ajuda”.

Penso que neste caso que acabo de referir, o “pastor” realmente é um verdadeiro trabalhador da sua entidade patronal, trabalhador submisso e sem vontade própria. 

 

 

4.3 Modelo de Pastor para os nossos dias.

 

Jesus empregou a palavra “pastor”, como uma alegoria que apresenta o verdadeiro pastor que cuida dos seus animais no campo que conhece a todos os seus animais e a eles se dedica inteiramente, como exemplo do que deve ser um dirigente duma congregação ou igreja local.

Mas será que, neste início de século XXI estamos em condições de compreender o que seja um pastor dos animais do campo? Nos nossos dias, já há bem poucos pastores que apascentem os seus animais nos campos. O que temos são os criadores de gado, que também conhecem os seus animais, mas é outro tipo de conhecimento. Todos os animais têm um “chip” de identificação desde que nasceram, como é obrigatório pela nossa legislação em Portugal. O criador de gado pode ligar o seu computador onde tem todos os registos dos animais e sabe perfeitamente quantos bovinos, caprinos, ou suínos tem, assim como as datas em que nasceram ou em que foram a vacinados, quanto gastou com a sua alimentação e quando estarão prontos para a viagem sem regresso ao Matadouro. Certamente que não era a esse conhecimento a que Jesus de referia. Se ainda houver verdadeiros Pastores nos nossos dias, será nos países que consideramos menos desenvolvidos.

Lembro-me que, há alguns anos, houve grandes cheias no rio Limpopo em Moçambique e as populações se refugiaram com o seu gado (vacas, cabras e porcos, pois nesse clima não há ovelhas), nalguns locais um pouco mais altos do grande vale do rio Limpopo. Mas o rio continuou a subir e as autoridades moçambicanas, prevendo que mesmo esses locais ficariam submersos, foram salvar esses pastores e suas famílias, pois não havia meios para salvar os animais. Foi nessa altura, que alguns Pastores disseram: «Se o nosso gado não pode ir, nós também não vamos. Preferimos morrer com os nossos animais

Nunca mais tive notícias dessa gente. Talvez tenhamos perdido os últimos verdadeiros Pastores a que Jesus se referia.

 

Os pastores das igrejas que têm feito melhor trabalho, são alguns que, tendo até uma preparação cultural acima da média, não recebem salário da sua igreja, salvo o caso de ajudas para viagens, pois exercem uma profissão secular, seguindo o exemplo de Paulo e sendo eles próprios um bom exemplo para os crentes. Poderia citar vários casos desses quer em Portugal, como no Brasil ou no Oriente. Alguns até são colaboradores desta minha página na internet. O simples facto do pastor não estar economicamente dependente da igreja, já lhe confere muito mais autoridade moral e independência na proclamação do Evangelho. A esses, não vou chamar de Grandes Servos do Senhor, mas eu os admiro, por saberem ser verdadeiros servos do Senhor. Quando as Escrituras chamam de servo, ou criado, ou escravo, é para mostrar que é pequeno, como todos nós, pois Grande…. o Senhor é Grande. Nesse aspecto, o frade católico está mais próximo do pensamento original de Pedro, do que o vulgar pastor evangélico.

 

Para concluir, penso que o caso desse pastor brasileiro, que foi a Tribunal reivindicar vínculo empregatício, nos alerta para a necessidade das igrejas dos nossos dias, repensarem o que significa o termo “pastor” em dois aspectos:

1  - No aspecto legal e das relações que tem com a igreja onde serve.

2 - No aspecto teológico, do “pastor” que serve um rebanho que não é seu e que um dia terá de prestar contas ao Senhor do rebanho.

Mas, haverá coragem para tal estudo?

 

 

(a)  Antes de entrar neste artigo, convidamos a ler:

Pastorado com vínculo laboral?

Pastorado: Profissão e vocação (MC)

Também o artigo Pastor é profissão? (DO), embora não se refira a este caso concreto, aborda o mesmo assunto.

 

 

(b) Aos leitores do nosso mundo lusófono, que não estejam em Portugal, devo informar que, as nossas leis portuguesas, só são válidas depois de publicadas no que chamamos de “Diário da República”.

 

(c) Veja sobre o assunto a secção desta página Temas Polémicos.

 

 

Camilo – Marinha Grande, Portugal.

Março de 2007

 

 

 

 

COMENTÁRIOS RECEBIDOS

 

Ao publicar alguns comentários e opiniões a respeito deste meu artigo “Pastor é profissão? (CC)”, quero em primeiro lugar, agradecer a todos que me contactaram.

Na minha página, a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”, todas a opiniões e sugestões são bem-vindas, desde que estejam em português correcto, e o remetente da mensagem esteja devidamente identificado (ou seja já conhecido).

Não faço censura teológica, e publico tudo, desde que defenda alguma posição teológica, mesmo que são seja a minha posição, pois é salutar a diversidade de opiniões, principalmente as discordantes, que são sempre da responsabilidade de quem escreve e assume a responsabilidade pelas suas afirmações.

Compete aos visitantes da nossa página tirar as conclusões que entenderem.

Camilo – Marinha Grande.

 

 

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Pastor Márcio Lima, “pastor brasileiro” em Ponte Sor, no interior de Portugal

 

Prezado irmão

Por favor, não perca seu tempo enviando-me assuntos pelos quais não desperta-me nenhum interesse. O que o irmão chama de reflecção teológica, eu chamo de perda de tempo e actividade de quem não está preocupado com o Reino e nem com a proclamação da mensagem salvadora de Jesus. É imprecionante como o irmão gasta o seu tempo com isso...enquanto há milhares nas trevas sem salvação. Se tenho o direito de surgerir, com o irmão faz?! Digo-lhe: use do seu precioso tempo para falar do Senhor e de Sua Mensagem de Salvação aos que se encontram perdidos..., será muito mais proveito. É só sugestão.

Fraternalmente

Márcio Lima

 

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Marcos Floriano Rosa  Estado de São Paulo - Brasil

 

Prezado Irmão Camilo,

Lendo este artigo sobre a “profissão”  de pastor, e este caso que foi parar no tribunal, lembrei de um caso parecido aqui na minha região! Não tenho preparação teológica nem conhecimentos jurídicos para me aprofundar no assunto, mas na época conversei com alguns “obreiros” da igreja que o pastor estava entrando com a ação.

Concordo plenamente com você sobre a verdadeira função de pastor, mas nessas igrejas os pastores são realmente prestadores de serviço. Segundo esses obreiros, os pastores são escolhidos pelo seu destaque entre as pessoas, sua popularidade, a sua disponibilidade e principalmente sua oralidade, ficando totalmente de fora a sua vocação! Geralmente, confirmando o que você disse no seu artigo a respeito da escolaridade destes pastores, são escolhidos pessoas com baixo nível escolar para ficar totalmente dependente da igreja e não ter escolha, mesmo quando perceber que está no caminho errado.

Quando são escolhidos para ficar à  frente de uma igreja eles recebem uma meta de dízimo, o valor  depende do tamanho da igreja, se num determinado tempo não alcançarem aquele valor, eles são trocados por outros pastores. Seu salário também é determinado e combinado num valor “x”, e também fica atrelado ao êxito da empreitada. Recebe apenas ajuda de custo até conseguir o valor estipulado pela cúpula da igreja. Inclusive algumas igrejas dão até Hollerith (a) com o valor do suposto salário, só que sempre abaixo do valor real que estão pagando ao pastor.

A preparação destes pastores é feita por empresários, e é ensinado como administrar, e induzir o povo a cada vez contribuir mais.

Cada vez que um pastor tem êxito na sua empreitada ele recebe uma promoção, que é a mudança para uma igreja maior, aonde ele vai ganhar mais. Então o empenho destes pastores não é de ensinar e conduzir o povo de Deus, e sim, de encher  cada vez mais a igreja através de campanhas, sensacionalismos e maldições, para assim poder aumentar a arrecadação e passar a ganhar mais.

Fiquei sabendo de casos de pessoas que perderam tudo nas mãos destes “pastores”, deram tudo que tinham, inclusive propriedades, indo morar de aluguel, iludidos por maldições e promessas de prosperidade.

E o que é pior com toda esta situação é que o povo generaliza, ao saber que você pertence a Cristo, acham que você é igual a essas pessoas.

 Essas igrejas se tornaram empresas, e o povo matéria-prima, e estão em franca expansão, milhões e milhões são arrecadados por mês, e o dinheiro ninguém sabe ao certo para onde vai! De vez em quando a justiça brasileira descobre algo sobre este dinheiro, como foi o caso recente da Igreja Renascer em Cristo, do qual foram presos nos Estados Unidos os seus representantes tentando entrar com dinheiro não declarado naquele país. Aqui no Brasil são acusados de lavagem de dinheiro.

Infelizmente, estamos tendo que conviver com essa triste realidade.

Um abraço!!!

Marcos Floriano

 

(a) Hollerith é termo utilizado no Brasil, que corresponde ao recibo ou comprovante de pagamento, que todo o empregador tem que fornecer junto com o salário mensal dos seus empregados. 

 

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas