Papa João Paulo II (CC)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Alguns visitantes da minha página na
Internet, têm perguntado a minha opinião sobre o Papa João Paulo II,
recentemente falecido.
Tenho ouvido nos últimos dias as mais
diversas opiniões, e não podemos ignorar que são opiniões dadas num momento de
grande emoção, pois ainda vivemos na época do funeral de João Paulo II.
Não sendo católico, entendo que não me
compete pronunciar-me, por minha iniciativa, sobre o Papa. Mas se os visitantes
da minha página me perguntam, também não me importo de dar a minha opinião.
Quero no entanto dizer, que se trata da
opinião dum leigo e dum crente em Cristo e só em Cristo. Não sou
católico por não aceitar a infalibilidade do Papa e alguns outros dogmas do
catolicismo romano, assim como, também não sou membro de nenhuma igreja
evangélica ou protestante. Mas, como crente em Cristo, não posso ficar
indiferente com o que se passa com as igrejas cristãs, nomeadamente a Igreja
Católica a maior igreja cristã.
Não estou minimamente interessado em que
protestantes se tornem católicos ou que católicos se tornem protestantes, pois
isso seria, em ambos os casos (se possível), andar de mal para pior. O que uns
e outros necessitam é de substituir a “conversão” às suas igrejas pela genuína
conversão a Cristo.
Penso que, devido à grande máquina de
propaganda do catolicismo, sempre que morre algum Papa, o povo católico fica
com a sensação de que morreu o melhor dos papas, morreu o grande homem do nosso
século, morreu alguém insubstituível. Seria necessário que o Papa fosse muito
mau Papa, para que o povo católico em geral, notasse
alguma coisa.
Em minha opinião, com o distanciamento
possível na época em que vivemos, penso que João Paulo II não foi nem uma coisa
nem outra.
Não foi o Papa do século, pois na minha
modesta opinião, esse lugar é de João XXIII, o Papa do Concílio Vaticano II,
cuja influencia ainda está a transformar o catolicismo romano.
Não nos compete julgar seja quem for, mas penso que João Paulo II teve os
seus aspectos negativos e positivos. Julgo que ele fez o que sabia e o que lhe
foi possível.
Entre
os aspectos negativos está a forma
como lidou com as outras igrejas cristãs na altura do Jubileu 2000, realçando
precisamente os aspectos que dividem os cristãos. Tenho alguns artigos sobre o
assunto nesta minha página. Apesar de toda a propaganda em contrário, penso que
houve um certo retrocesso no movimento ecuménico durante o seu pontificado.
Menciono os
artigos: Jubileu 2000
«Incarnationis mysterium»
e Contributos do Jubileu para o
Ecumenismo.
Ainda sobre os aspectos negativos está a
condenação e marginalização de vários eminentes Professores e teólogos
católicos. Fala-se num total de 140 que foram silenciados durante o pontificado
de João Paulo II, pela “Congregação Romana de Doutrina da Fé” presidida pelo
cardeal Ratzinger. Entre os Professores de teologia
silenciados estão os “nossos”, (digo “nossos” por serem de língua portuguesa)
Frei Marcelo Barros, Frei Carlos Mesters e Frei
Leonardo Boff, que já foi Professor de teologia em
várias Faculdades europeias, inclusive em Lisboa. Temos também o caso recente
do sacerdote jesuíta americano Roger Haight,
ex-presidente da Sociedade Teológica Católica da América, que foi silenciado e
dispensado dos seus cargos devido ao seu livro “Jesus, símbolo de Deus” que foi
traduzido para português e impresso pela Paulus de
São Paulo em 2003. O mais grave é que o referido livro reúne o pensamento de
diversos teólogos de todas as denominações, para apresentar a fé cristã de
maneira compreensível a pessoas de certa cultura de dentro e de fora das
igrejas.
Parece que as religiões, principalmente
as monoteístas, não têm grandes tradições de liberdade de expressão. Talvez a
teologia tenha a aprender com as outras ciências. Se algum técnico ou cientista
tiver uma nova descoberta ou nova ideia, todos o ouvem com atenção, nas se for
um teólogo, logo o acusam de heresia, com toda a carga semântica que tal
palavra adquiriu em ambiente religioso. Afinal, heresia vem do grego “hairesis” que significa escolha, preferência, gosto
particular, escolha filosófica etc. No entanto, onde não houver liberdade de
pensamento e liberdade de expressão, esta palavra adquire uma semântica bem
negativa. No passado, já muitos foram torturados e mortos por terem opiniões
diferentes, a tal heresia, certamente com fundamento bíblico, não na mensagem
de Cristo que não aprovou estes métodos (João 8:1/11),
mas no Velho Testamento que manifesta pouca consideração pela vida humana e
aplica muitas vezes a pena de morte num contexto cultural em que não havia
liberdade de religião nem liberdade de pensamento.
Temos de ser realistas. No passado,
muitos que discordaram da posição oficial da Igreja Católica foram mortos. Nos
nossos dias, quem discordar da posição oficial da sua igreja, se for evangélico
é excluído dessa igreja, e se for católico é dispensado das suas obrigações
profissionais, principalmente de for Professor de teologia.
Como
aspectos positivos do Papa João Paulo II,
registo o simbolismo das visitas a mesquitas e sinagogas, o que demonstra uma
certa abertura que me parece estar em contradição com o falta de liberdade de
expressão que manteve em relação aos próprios teólogos católicos cuja pesquisa
teológica não foi incentivada mas sim abafada.
Mas o aspecto mais positivo de João Paulo
II, foi sem dúvida a sua corajosa e intransigente
defesa da paz. Refiro-me à sua posição em relação ao imperialismo
norte-americano quando este atacou o mundo árabe.
Quanto a essa polémica levantada no meio
evangélico, principalmente no Brasil, sobre a eventual salvação eterna de João
Paulo II, examinando com o distanciamento de crente em Cristo, que não é
católico nem protestante nem ortodoxo, mas procura meditar na mensagem de
Cristo, que não era católico nem protestante, pois Ele é a Palavra de Deus e
nem sequer foi judeu, pois nasceu como Filho de Deus, por intervenção do
Espírito Santo, penso que, de acordo com Mateus 5:9
“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.”,
João Paulo II, na sua defesa da paz, ganhou o título de “filho de Deus”.
Eu concordo com a posição do Pastor Caio
Fábio sobre este assunto. O importante é pregar a Cristo e viver segundo os
seus ensinos, em vez de pregar o catolicismo ou o evangelicanismo.
Por vezes, chama-se de pregação do Evangelho, ao que não passa de simples
propaganda das igrejas, que nenhum fruto produz.
Teologia e convicções doutrinárias são
importantes, mas não é o rigor teológico que nos salva. Satanás conhece muito
mais teologia do que todos nós. Também, não são as igrejas que salvam.
Antigamente, o catolicismo afirmava arrogantemente que “fora da Igreja não há
salvação”. Graças a Deus que já abandonou essa posição teológica. Mas não posso
deixar de ficar horrorizado por ver que agora são algumas igrejas que se dizem
evangélicas que estão assumindo essa posição que os católicos rejeitaram.
Por vezes, temos de estabelecer uma certa
hierarquia nos nossos valores e penso que no nosso contexto histórico, a maior
ênfase deve ser dada ao versículo que citamos em Mateus 5:9. A defesa
da paz é mais importante do que todo o rigor teológico.
Vejo um Papa que cometeu os seus erros,
que silenciou eminentes teólogos católicos ecuménicos, mas que na devida altura
soube manter uma defesa intransigente da paz, quando o imperialismo
norte-americano bombardeou populações indefesas no Afeganistão e no Iraque. E
vejo também, algumas igrejas que se apresentam como evangélicas (felizmente
poucas) a orar pelas forças invasoras. Vejo eminentes teólogos como Billy Graham a apoiar a guerra como forma de “evangelismo”
(ver artigo Cruzada
americano/Batista CC nesta minha página.
Filhos de Deus,
são os que defendem a Paz. Os outros, não digo que sejam filhos de Satanás,
pois este talvez não os aceite como tal… mas pelo menos serão abortos de
Satanás.
Camilo – Marinha Grande
- Abril de 2005
Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas