Violência religiosa em Orissa (CC)
(Orissa é um Estado da Índia)
(Deverá
“clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
Nos
últimos dias, temos sido abalados por um acontecimento que parecia impossível a
quem já conhece alguma coisa da Índia. Há combates e ódio religioso no Estado
indiano de Orissa que fica na parte oriental da Índia
no Golfo de Bengala.
Este
assunto interessou-me particularmente, não só porque me interesso por religião,
mas também por não poder ser indiferente ao que se passa na Índia. Como digo na
minha apresentação, estou em Portugal mas nasci em Moçambique, sou português
mas sou descendente de indianos da parte de meu pai e de chineses da parte de
minha mãe. De certa maneira a Índia é a minha segunda pátria, pois para visitar
Moçambique, onde nasci, tive de pedir visto no passaporte, como qualquer
estrangeiro, mas a Índia concedeu-me o cartão PIO (person
of indian origin card), que significa
“cartão de pessoa de origem indiana”, que me permite entrar ou sair livremente
da Índia, onde tenho os direitos de qualquer indiano, excepto o de exercer
cargos políticos. Mas não posso dizer que conheço bem a Índia. Se, vivo em
Portugal mas não conheço bem a Comunidade Europeia que são 27 Estados com um
total de cerca de 500 milhões de habitantes, como poderei conhecer a Índia,
onde tenho ido de férias e tem 1100 milhões de habitantes?
Nunca
fui ao Estado de Orissa. Trata-se duma zona da Índia
que não conheço e imaginava que não fosse muito diferente Mumbai (antiga
Bombaim) ou de Goa com o seu povo tão amável e pacífico.
Mas
a verdade é que aconteceu o imprevisível. Há luta religiosa entre hindus e
cristãos (tanto católicos como protestantes ou evangélicos). Tenho recebido
notícias de diversas fontes.
Penso
que em Portugal não se deu ao assunto a importância que merecia. Mas encontrei
as três notícias na página da nossa RTP (Rádio televisão portuguesa), que
poderá ler em:
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=360404&visual=26&tema=2
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=316219&visual=26&tema=2
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=316445&visual=26&tema=2
A
finalidade desta minha página na internet é a meditação teológica sem
fronteiras. Não é nosso objectivo a divulgação de notícias, embora por vezes
recebamos alguma informação, enviada por missionários ou pastores. Mas como não
temos oportunidade de confirmar a sua veracidade, geralmente optamos por enviar
as notícias mais importantes para a página Uniãonet que se dedica
só a noticiário do mundo evangélico. Poderão encontrar mais informação e várias
fotos sobre os graves acontecimentos em Orissa na Uniãonet, ao fim da
página http://www.uniaonet.com/indiaorissa.htm
Assim,
tencionamos fazer uma abordagem ao assunto, não como noticiário, mas como
meditação no que tem acontecido no Estado indiano de Orissa.
Sem
dúvida que meditar é pouco. Quando há destruição e mortes é urgente uma acção
mais rápida e enérgica, como já providenciou o Governo Indiano, embora a
polícia não possa estar em toda a parte. Mas as mensagens que tenho recebido
limitam-se às descrições destes tristes acontecimentos e ainda não estou
esclarecido sobre as causas do problema. Talvez os ânimos estejam ainda
demasiado exaltados e não haja condições para uma séria meditação, como
certamente que será feita na Índia.
Da
última vez que estive na Índia, no início deste ano de 2008, fiquei uns dias
num condomínio fechado, nos arredores de Pangim, em casa dum casal amigo e
notei que nesse espaço havia habitações de hindus, de cristãos e de islâmicos.
As crianças, que brincavam juntas nos jardins desse condomínio, conheciam as
festas religiosas das outras religiões, pois quando era uma festa hindu ou
islâmica, estes ofereciam os seus bolos a todos os seus vizinhos e na altura do
Natal, era a vez dos cristãos presentearem os seus
vizinhos do condomínio. Como poderia uma criança cristã ou islâmica desconhecer
o deus hindu Ganesh, se este lhe dava uma semana de
férias da escola todos os anos? Este é um exemplo que bem gostaria que fosse
uma amostragem significativa de toda a Índia, mas infelizmente parece que há
excepções, como no caso de Orissa.
Penso
que, enquanto não for investigado qual o motivo que levou à alteração do
comportamento dum povo normalmente pacífico e ordeiro, o problema pode ser
abafado, mas nunca ficará resolvido.
A
causa próxima foi o assassínio do Sadú Swami Laxmanananda Saraswati que era muito crítico dos métodos de
evangelização dos cristãos. Não consegui ter acesso às suas críticas, mas penso
que seria muito importante examinar as suas afirmações, que muitos cristãos
rejeitam sem as conhecerem, como se os missionários, padres e pastores fossem
intocáveis e acima de toda a crítica. Deixo aqui o apelo aos leitores da minha
página que estão na Índia, para que me enviem as informações possíveis sobre
essas críticas. Trata-se certamente duma muito valiosa observação do trabalho
missionário, visto sob um prisma cultural bem diferente, que merece ser
estudado.
Alguns
jornais afirmam que ele foi assassinado por cristãos maoístas. Não estou em
condições de avaliar a credibilidade desta acusação. Até a polícia indiana
ainda não chegou a uma conclusão. Mesmo assim, parece haver uma outra causa
remota, que já há anos tem vindo a provocar o ódio religioso que este
assassínio fez ultrapassar as barreiras do tolerável.
Pelo
que vi na Índia, o hinduísmo é uma religião pacífica, como geralmente são as
religiões politeístas e através da história, inclusive a história de Portugal,
o hinduísmo sofreu duramente com o fanatismo dos cristãos, com a destruição de
templos hindus centenários em Goa, nomeadamente o templo hindu de Vernã em Salcete, destruído pelos
portugueses em 1567, templo de Ramath em Pondá em
1566 (reconstruído em 1905), até o templo de Shantadurga
(que significa deusa da Paz) foi arrasado em 1567 Mas não parece que a causa
destes distúrbios tenha razões históricas que gostaríamos que já estivessem
ultrapassadas, embora muitos se lembrem de que a evangelização dos territórios
da costa ocidental da Índia foi feita com a colaboração do Tribunal de Santa
Inquisição em Goa. Até nos nossos dias, não podemos ignorar o fanatismo de
alguns missionários evangélicos americanos e brasileiros, que entram na Índia
com visto de turista, mentindo às autoridades indianas, para falar contra os
deuses da tradição hindu. Certamente que o cristianismo não os aceita, mas
temos que respeitar aquilo em que muitos outros acreditam.
Julgo
oportuno lembrar que o Estado de Orissa tem 155 707
km2 de área (1,7 vezes a área de Portugal), com altitudes que vão deste o nível
do mar, até 1672 metros de altitude no monte Deomali,
e várias florestas com vida selvagem (elefantes, tigres e crocodilos nos rios).
A população é de 36,7 milhões de habitantes (3,6 vezes a população portuguesa).
Quanto às principais religiões, há 94,4% de hindus, 2,4% de cristãos e 2,0% de
islâmicos.
Das
informações que recebi e enviei para a página Uniãonet, quase todas descrevem os acontecimentos sem
adiantar uma explicação. Mas quero destacar duas mensagens. Uma dum artigo dum
jornalista hindu, que dá a sua opinião pessoal sobre o assunto. Trata-se dum
hindu que escreve para os hindus. A outra mensagem, é
a opinião dum amigo católico da cidade de Margão, Estado de Goa.
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Quem é o verdadeiro Hindu?
(Tradução)
(Artigo
de Karan Thapar, jornalista
hindu, do Hindustan Times de Mumbai, publicado em
2008/08/31)
Será que o VHP (a) tem o direito de falar por você ou por mim? Será que este
partido reflecte a nossa visão? Apoiamos o comportamento deles? Eles se
intitulam o Conselho Mundial Hindu, mas, pergunto: Quem pode dizer que eles
representam cada um de nós?
Nesta manhã de domingo eu quero demarcar uma clara fronteira
entre eles e nós. Creio que muitos de vocês irão concordar.
Deixe-me começar com a questão da conversão – uma questão que
mexe muito com o VHP. Eu imagino que haja milhões de hindus pacíficos,
tolerantes, devotos à sua fé, e que, acima de tudo, sentem-se felizes
convivendo com muçulmanos, cristãos, sikhs, budistas, jains
e judeus. Se fôssemos mudar de religião, como isto afectaria o nosso próximo? E
mesmo que fizéssemos esta escolha por razões relevantes, podemos concluir que a
fé deixada para trás não satisfez. Assim sendo, por que o VHP e seus membros
desordeiros, o Bajrand Dal, ficam furiosos se você,
eu, ou quem quer que seja, se converta? O que eles têm a ver com isto?
Deixe-me colocar isto de uma maneira franca – até cruel. Se eu
quiser vender a minha alma e negociar com os deuses uma nova sorte para a minha
vida – o que me impede de fazer isto? Mesmo que este acto me diminua aos seus
olhos, é meu direito fazê-lo. Assim, se centenas ou até milhões de párias (b), que foram abandonados
ou que ficaram no ostracismo por gerações, resolvem tornar-se cristãos,
budistas ou muçulmanos, para fugirem da discriminação de sua fé hindu ou para
não serem mais enganados com a falta de alimento ou dinheiro – eles têm esse
direito.
Você pode até pedir para eles reconsiderarem, embora eu chame
isto de interferência, mas você não tem o dever ou direito de detê-los. Na
verdade, questiono se é moralmente correcto detê-los de alguma maneira. A tão
chamada Liberdade de Religião, que tem por objectivo justamente isto, é, na
verdade, bastante questionável.
Entretanto, o que é ainda pior, é a maneira como o VHP responde
a isto. Eles utilizam a violência - inclusive assassinatos. O que ocorreu a
Graham Staines em Orissa
não foi um caso único. Na semana passada ocorreram outros factos. A despeito
dos horrores de tais atitudes criminosas, é assim que os hindus desejam
proceder? É assim que queremos defender a nossa fé? É assim que queremos ser
vistos? Não tenho dúvidas de que a resposta é “não”. Um “não” total, absoluto,
imutável.
O único problema é que este “não” não é ouvido. É precisa ser
ouvido. Eu acredito que chegou o tempo para a maioria dos hindus calados –
tanto os que praticam sua fé como aqueles que nasceram hindus e não são
praticantes - falarem. Não podemos aceitar a destruição das igrejas, não
podemos ver inocentes cuidadores de orfanatos morrerem queimados, não podemos
tolerar ataques a cristãos e muçulmanos em nome da defesa da nossa fé – na
verdade, eles não defendem, mas envergonham o hinduísmo. Este é o meu ponto
principal.
Sinto muito, mas quando leio que o VHP saqueou e assassinou, não
fico apenas completamente desesperado... eu fico envergonhado. Não fico
envergonhado de ser hindu, mas, tenho vergonha do que alguns hindus fazem em
nome da fé.
Acredito que seja um dever de Naveen Patnaik, Ministro de Orissa,
tomar acções duras e rígidas contra o VHP e seus seguidores, Bajrang Dal. Este não é um teste apenas ao seu governo, mas
ao seu carácter. Creio que sua sobrevivência política deveria estar vinculada a
isto.. Mas quando há uma luta entre o compromisso com
os seus princípios e sua conveniência política – há alguma escolha? Para alguns
políticos, sim, mas para Naveen, eu sei,
definitivamente, não.
Deixe-me, então, concluir, dizendo o seguinte: estou aguardando,
Naveen. Na verdade, não estou sozinho. Há milhões de
Hindus, como você e eu, aguardando em silêncio – mas cada vez mais impacientes.
Por favor, haja a nosso favor.
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Opinião do Dr. Filipe Borges (Advogado) em Margão – Estado de Goa.
O
Dr. Filipe Borges é natural de Moçambique, e tem o português como sua língua
materna embora esteja destreinado, pois o seu falecido pai regressou à Índia
levando-o ainda criança para Goa. É católico, descendente dos antigos brâmanes
e vive na cidade de Margão, onde exerce a profissão de Advogado.
Em Orissa, os missionários católicos dão ajuda
aos mais desfavorecidos, mas persuadem-nos a converter-se ao cristianismo. Os
hindus fundamentalistas não querem que os párias se convertam ao cristianismo,
embora todos ponham seus filhos em escolas de Jesuítas e conventos para sua
instrução. Os missionários recompensam os convertidos pagando a sua instrução,
sustento e arranjam emprego não só na Índia como até no estrangeiro.
Como resultado disso, os convertidos tornam-se mais prósperos que os
fundamentalistas hindus que não conseguem tais benefícios dos missionários.
Eles ressentem-se com o sucesso dos convertidos e consequentemente têm
tendência a impedir os missionários de fazer conversões e de continuar com tal
actividade. Em Orissa incendiaram igrejas e atacaram
missionários e crentes. Como resultado, os missionários decidiram fechar suas
instituições educacionais e organizar manifestações de protesto contra tal
violência. Através de toda a Índia as escolas católicas estivaram encerradas
durante um dia inteiro, aproximadamente 10 dias depois, como sinal de protesto.
O Primeiro Ministro teve de ordenar a protecção dos
cristãos. Uma campanha de assinaturas está também em curso. Mas os hindus são
muito mais numerosos que os cristãos e a campanha de ódio hindutva
(c) está aumentando dia a
dia.
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Penso
que temos pelo menos, uma causa principal que deu origem ao ódio religioso, e o
motivo que fez explodir toda esta agressividade acumulada através dos tempos.
A
morte do Sadú ficará na história. Mas o mais o
importante, se ainda continuam as verdadeiras causas do problema como foram
apresentadas pelo Dr. Filipe Borges, teremos de temer novos problemas quando
terminar a intervenção policial em Orissa, pois não é
possível colocar um polícia em cada canto dum território tão vasto. A
intervenção policial terá de ser complementada por uma acção de pessoas de bom
censo de ambas as religiões, e receio que aqui esteja o maior problema. É que
pessoas de bom senso, possivelmente já foram afastadas das suas religiões, onde
os mais fanáticos e mais fundamentalistas são considerados os mais fiéis, em
todas as religiões. É por isso que todas as religiões são um perigo latente,
pois falam em paz e amor, mas os resultados são os que sabemos.
A
evangelização da Índia vem desde o ano 1510, mas começou mal, para não dizer
pessimamente. Evangelização como meio de apoio aos grandes impérios como foi o
Império Português, Império Britânico e outros. Foram utilizados meios violentos
e benefícios económicos para incentivar as “conversões”. Afinal, os incentivos
económicos ainda hoje são utilizados por católicos e evangélicos. (d)
Ninguém
pode ignorar a acção meritória do trabalho missionário cristão (católico e
protestante) na instrução e assistência social das missões tradicionais.
Certamente que nada é perfeito e nada é completamente negativo.
Embora
haja ainda muitos verdadeiros missionários que dão as suas vidas pelo
Evangelho, penso que a Índia já não necessita tanto de missionários
estrangeiros que por vezes atrapalham mais do que ajudam. Deixem a
evangelização da Índia a cargo dos cristãos indianos. Já há igrejas católicas e
protestantes indianas, devidamente organizadas, constituídas por verdadeiros
indianos.
Mas
os incentivos económicos não são eficazes só para os convertidos (certamente
convertidos aos interesses económicos e não a Cristo), mas também para alguns
dos missionários evangélicos. Contaram-me quando estive na Índia, no início deste
ano, que missionários evangélicos americanos e “brasileiros” americanizados, a
certa altura, procuravam as igrejas indianas com muita amabilidade e pediam
para tirar fotos de recordação. Mais tarde, os crentes indianos souberam para
que eram as fotos. É que essas “multinacionais de evangelismo”, para incentivar
os missionários, pagavam 20 a 25 dólares por cada conversão devidamente
comprovada.
Bem
sei que “uma andorinha não faz a Primavera”, não é um caso isolado dum mau
missionário que põe em causa a obra missionária. Mas muitas andorinhas, essas
sim… anunciam a Primavera. Dizem que muita coisa continua mal na obra
missionária.
Haverá
coragem para uma séria reflexão sobre o assunto?
Camilo – Marinha Grande
Setembro
de 2008
(a) VHP significa Vishwa Hindu Parishad, é um grupo
militante que se auto-intitula Conselho Mundial Hindu.
(b) Pária
é tradução em português da palavra dalit, utilizada
no artigo em inglês.
(c) Penso
que a palavra hindutva não tem tradução em português. É uma
referência a uma antiga ideologia hindu que considerava toda a Índia como uma
“Nação hindu” e todos teriam de ser convertidos ao hinduísmo. Vemos aqui o
perigo duma interpretação fundamentalista dos antigos textos sagrados de todas
as religiões, sem atender ao seu contexto histórico e cultural. Essa atitude
tem certamente paralelos com o que se passa com o fundamentalismo islâmico ou o
fundamentalismo cristão, quando afirmam, por exemplo, que toda a Bíblia é igualmente
inspirada do Génesis ao Apocalipse e é tudo igualmente eterno e imutável, para
depois deparar com textos que nem os judeus dos nossos dias levam a sério, como
Êxodo 21:7, Êxodo 21:17, Levítico 20:27, Levítico 24:16, Levítico 26:7, Deuteronómio 25:5.
Todas
as religiões são um grande perigo, quando os antigos textos religiosos são interpretados
por fundamentalistas, sem atender ao seu contexto histórico, pois o
fundamentalista tem a sua mente limitada e só raciocina no seu contexto
cultural, incapaz de ver alguma coisa para além das suas fronteiras teológicas.
(d)
Penso que uma história da evangelização da Índia, para ser credível, deverá ser
escrita em conjunto por cristãos e hindus. Mas será isso possível se nem entre
cristãos há acordo? Enquanto não houver uma história escrita em conjunto, não
teremos a garantia de não estarmos perante parte da verdade, ou talvez uma
perspectiva da realidade, vista através de determinado contexto cultural.
Afinal,
estes problemas não são novos. Noto uma grande falta de informação credível da
história da evangelização, quer do Oriente, quer de África, quer do Brasil. O
que ficou registado na história é geralmente a versão dos próprios
missionários, pois em África e no Brasil os povos evangelizados não conheciam a
escrita. Mas o mesmo não aconteceu no Oriente.
A
melhor história da evangelização da Índia, foi a que
encontrei no “Centro Xavier de Investigação Histórica” em Goa. Trata-se do
livro “Conversions and Citizenry”, obra dum Frade jesuíta que se tornou Padre, o
Rev. Délio de Mendonça.
Rev.
Délio de Mendonça investigou o assunto, com imparcialidade, não só nos velhos
mosteiros em Goa, como no Vaticano, e em Lisboa onde o conheci, mas não se
limitou às informações católicas, foi também às informações nos templos hindus.
Infelizmente, o livro só foi publicado em inglês.
O
Rev. Délio Mendonça nasceu na cidade da Beira, em Moçambique, tendo o português
como sua língua materna, mas foi levado para a Índia em criança, quando o seu
pai voltou para Goa, na altura da independência de Moçambique e da
desorganização desse país. Segundo ele próprio me informou, o seu livro já está
traduzido para português, embora necessite de ser revisto, pois está
destreinado do português, mas não encontrou nenhum editor interessado na
publicação, o que considero uma grande perda para a nossa cultura, pois muitos
dos problemas abordados interessam não só aos portugueses, como a brasileiros e
moçambicanos, que ficavam na rota das caravelas a caminho da Índia. Uma grande
perda pois há muito pouca informação imparcial sobre esse assunto.
COMENTÁRIOS RECEBIDOS
Comentário
do ir. Afonso Felício,
colaborador da nossa página.
Caro
Camilo,
Li
os textos que me enviaste sobre este triste acontecimento. São as reedições dos
diversos fundamentalismos religiosos, que não conseguem alterar os seus
comportamentos e se fixaram na perseguição ao “outro”. Apesar da evolução
científica e do reconhecimento que temos da necessidade uns dos outros, está
difícil conseguir-se uma evolução baseada na tolerância e no respeito ao
próximo.
A
Bíblia logo no início relata-nos o assassinato de Abel por Caim e hoje
continuamos a ter o mesmo panorama. Como base disto temos a inveja do progresso
do outro, como aliás vem mencionado num dos textos que li.
Por
outro lado, é para mim incompreensível haver quem se dedique a escrever livros
ou panfletos ridicularizando a religião do outro, sabendo que para o outro a
sua religião é sagrada.
No
fundo é a repetição da história religiosa em todo o mundo. Até quando isto se
vai repetir?
Um
abraço do
A. Felício 2008/09/21
Recebido da irmã Alisha,
evangélica indiana.
Querido Irmão Camilo,
Concluí a leitura do seu artigo agora já
pela segunda vez, tentando entender bem sua mensagem nesse desafio e chamada à
reflexão acerca do ocorrido em Orissa.
Primeiro destaca o clima pacífico, a
harmonia e a “tolerância religiosa” com que todos nós (cristãos, muçulmanos e
hindus) convivemos lado a lado aqui na Índia, desfrutando tanto dos ladus (a), durante o festival do Ganesh,
ou do dodol (a) e
bebinca (a) dos cristãos na época do Natal...
Segundo, alerta para o que no fundo, no
fundo, nós que moramos aqui, e conhecemos de perto essa realidade bem sabemos
que o irmão Camilo tem certa razão quando afirma que “...parece haver uma
outra causa remota, que já há anos tem vindo a provocar o ódio religioso que
este assassínio fez ultrapassar as barreiras do tolerável”, em Orissa e Mangalore.
Também penso que o “ressentimento” dos
hindus acumulado ao longo da história, através dos factos que a mídia insiste em divulgar repetidas vezes, mostrando a
violência dos cristãos sob os indianos, como os factos históricos registaram,
durante a Inquisição em Goa, mas neste país como um todo, trata-se de um
“assunto mal resolvido” na percepção e suposta tolerância dos hindus.
Concordo com o irmão quando diz que os
métodos de evangelização naquela época foram tão desprovidos de amor, genuína
vocação e sabedoria, tanto quanto os de hoje, que observamos e vale a pena
destacar aqui, não somente no trabalho dos nossos irmãos americanos ou
“brasileiros” americanizados... mas noruegueses, peruanos, portugueses e,
inclusive indianos, que muito frequentemente utilizam incentivos económicos
para conseguir algumas “conversões”. Penso, como o irmão, que uma das
verdadeiras causas para a violência em Orissa, tenha
sido essa.
Seria mesmo muito oportuno que pessoas
de bom senso e experiência se manifestassem para discutir essa questão com mais
fundamento e apreço.
Mas em segundo lugar, com o pouco
conhecimento que tenho dos Evangelhos, para mim não é nada difícil discernir a
interferência espiritual de entidades diabólicas nesse evento. Afinal os sinais
mencionados por Cristo como sendo indicadores da proximidade da Sua segunda
vinda, incluem o aumento da maldade no coração do homem. Pois acredito que
somente estando “alucinado” e sob domínio de alguma “força estranha” é que um
ser humano poderia ter feito as barbaridades que foram feitas com inocentes
crianças, idosos, homens e mulheres, que na maioria dos casos, nada tinham a
ver com essas supostas “conversões” em Orissa ou Mangalore. Portanto penso que faltou no seu artigo essa
dimensão espiritual na reflexão desses acontecimentos em Orissa,
uma vez que isso pode ser fundamentado pelas palavras do nosso próprio Mestre,
Jesus.
Outra coisa que percebi na minha humilde
avaliação do seu texto, é que o irmão Camilo ignorou (ou subestimou?) a
soberania de Deus, quando afirmou que seria bom “deixar a evangelização da
Índia a cargo dos próprios indianos”. Deus na sua soberania, continua
chamando, vocacionando, capacitando e enviando Seus missionários transculturais
para qualquer parte do mundo onde Ele sabe que é preciso e deseja enviar.
Expressando assim a Sua multiforme sabedoria; cumprindo Seu perfeito e
agradável propósito na vida daqueles que Ele conhece o coração.
É bem verdade que um missionário
ocidental terá muita pouca
possibilidade de “evangelizar a Índia” com sua infinidade de dialectos e
diversificada cultura. Mas sua actuação poderá ter desdobramentos eternos sem
limites, se ele trabalhar em sintonia com a verdadeira Igreja do Senhor neste
país, seja treinando, encorajando ou ensinando sabiamente aqueles a quem Jesus
já tem atraído para Si mesmo.
No mais, penso, irmão Camilo que este
seu artigo contribuirá muito, para o inicio dessa discussão tão imprescindível.
Namastê
Alisha 2008/09/22
(a)
São
bolos tradicionais indianos.
Estudos bíblicos sem
fronteiras teológicas