Nós e o mundo de hoje (OC)

Questões sobre nossa vida e a nossa missão

 

 

Como falar de Cristo ao Homem de hoje? Ao bioquímico que está “quase” a produzir vida num tubo de ensaio, ao colega de faculdade que está à frente dum movimento de vanguarda, ao homem da rua que reivindica os seus direitos na sociedade, ao empregado de escritório que acaba de ser substituído por uma “máquina de pensar”, aos jovens que vendem o seu corpo para sobreviver...

Que espécie de discurso (de testemunho) fará sentido para essa gente, em pleno século XXI?

O mundo tem mudado tanto e tão depressa! As crianças já não brincam como antes, ao sabor da imaginação. Hoje brincam com o que a televisão lhes sugere, com jogos de computador, com brinquedos telecomandados.

Os jovens são ensinados a confiar na ciência. Noventa por cento dos cientistas de sempre estão vivos hoje. O conhecimento científico e as suas aplicações tecnológicas são os novos deuses deste século, porque se presume que a ciência tem ou virá a ter explicação para tudo. Logo, a religião é considerada uma muleta para os fracos, e Deus um conceito obscurantista e obsoleto. 

Os nossos contemporâneos assumem-se como realistas e valorizam as coisas objectivas.

Ora, para lhes comunicarmos Cristo, temos de ser também realistas quer acerca do cristianismo quer acerca de nós mesmos.

Jesus alimentou multidões famintas com pão material. Deu saúde a muitos enfermos, conviveu com mulheres e homens carentes e solitários. Nós precisamos de compreender as necessidades dos que nos cercam: se têm fome, se estão cansados ou inseguros, se vivem sós, se são rejeitados, discriminados...

E não só teoricamente, nem apenas sobre o mundo em geral, o que é mais vago e relativamente menos incómodo. Alguém escreveu: “amar o mundo não é difícil para mim, o meu grande problema é o vizinho do lado”. Os índios americanos têm um provérbio que diz: “uma pessoa não deve dizer nada a outra até que tenha andado com os sapatos dela”. Ou seja, é preciso que nos coloquemos no lugar dos outros e isso implica um esforço de aproximação e de empatia.

Por outro lado há que repensar, enquanto cristãos, o que temos para oferecer/propor ao mundo de hoje.

Um ambiente de igreja? Ou seja, frequentar a igreja aos domingos, assistir a reuniões e celebrações, ter eventos sociais, passeios e confraternizações? Muita música: hinos e cânticos (às vezes arcaicos e nem sempre sentidos e vividos), bandas com sons “pop” e outros dos estilos mais em voga?

Vamos testemunhar da nossa fé, se nós próprios cremos em tudo acerca de Jesus mas talvez nos falte ainda um relacionamento dinâmico com Cristo?

Vamos promover a solidariedade social através de instituições para-eclesiásticas? Mas será que estamos preparados para o fazer de forma digna, ou embarcaremos no grande negócio e/ou no mero aparato?

Se nos examinarmos, se formos honestos connosco próprios, se nos situarmos perante Aquele e aquilo que desejamos partilhar, talvez estejamos no caminho certo. E se formos suficientemente humildes para escutar aqueles que nos rodeiam, sem os julgarmos, procurando conhecer as suas necessidades, os seus pontos de vista e os seus problemas... Em suma, se houver uma disponibilidades para compreender e aceitar o outro, trocar ideias, partilhar experiências e, de mãos dadas, contribuirmos para a construção dum mundo melhor, talvez seja um bom começo.

A nossa maneira de viver, tanto ou mais do que as nossas palavras, apontará para Cristo e anunciará o Seu evangelho. O segredo é levarmos sempre o amor do Senhor connosco e em nós. Porque é esse Amor em nós que tornará credível o nosso testemunho e mostrará quem Jesus é.

 

Orlando Caetano

Janeiro de 2006

 

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas