Música religiosa (CC)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

Introdução

 

Recebi uma mensagem em que o irmão Fábio Cruz, visitante da minha página na Internet, me fazia a seguinte pergunta:

 

Gostaria que me esclarecesse em um assunto. O facto do estilo de música tocada como louvor ao Senhor estar a causar discórdia em muitas igrejas, mais propriamente a música pesada. Gostaria de saber a sua opinião.

 

Como foi a primeira vez que esse irmão me contactou, perguntei onde se encontrava, a fim de tentar compreender o problema que me foi colocado, pois tratando-se dum problema nitidamente ligado à forma de expressão pela música duma maneira geral, cânticos, instrumentos musicais e danças, não me era possível responder sem atender ao contexto cultural em que este irmão se encontra.

Afinal, o irmão que me fez a pergunta é um jovem duma igreja no norte de Portugal, uma igreja identificada como batista, mas ligada aos batistas brasileiros e não integrada nas organizações batistas portuguesas.

Temos já dois artigos sobre o assunto na nossa página cuja leitura aconselho:

Cantar é louvar a Deus?” De autoria da ir. Ruth Varela com alguns comentários meus.

Dança” De autoria do Prof. Orlando Caetano. 

Resolvi no entanto, colocar a resposta ao irmão Fábio na minha página da internet, dando um maior desenvolvimento, abordando o assunto não só em relação ao seu caso particular, duma igreja evangélica no norte de Portugal, mas no aspecto em geral, sabendo que este artigo será lido não só em Portugal, como em África, no Brasil e no Oriente.

Afinal, haverá uma música religiosa? 

E em caso afirmativo, como será a música religiosa e quais os instrumentos mais dignos de serem utilizados nos cultos? 

 

Música nos cultos

 

Desde os tempos mais remotos que a música e muitas vezes a dança está relacionada com quase todas as religiões. Também era assim no Velho Testamento e assim continuou após a chegada e os ensinos de Jesus, o Cristo, o “Logos”, o único que é a Palavra de Deus. 

Comecemos por examinar algumas diferenças entre a música utilizada no Velho Testamento e a música que encontramos no Novo Testamento.

 

No Velho Testamento

 

Encontramos já em Êxodo 15:1 uma referência ao canto que Moisés e os filhos de Israel entoaram ao Senhor. A descrição bíblica não nos diz como foi esse canto, se havia instrumentos, ou se foi acompanhado de danças, mas o contexto deste versículo, leva-nos a pensar que terá sido um cântico verdadeiramente espontâneo, que ninguém programou, nem ensaiou nem teve tempo de preparar os instrumentos. Mas, mais adiante, em Êxodo 15:20/21, temos a descrição da reacção de Miriam que pegou no tamboril e dançou, assim como todas as mulheres com tamboris e com danças. O versículo 21 confirma que cantavam ao Senhor. Noutras traduções aparece a palavra Maria, em vez de Miriam. Duas traduções possíveis, pois as duas palavras derivam da que está nas cópias dos manuscritos. Em lugar de tamboril nalgumas traduções está tamborim, ou adufe, pois todas estas palavras designam o mesmo instrumento que apresentamos na seguinte foto.

 

 

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Adufe ou tamborim ou tamboril

 

Ao ler estas passagens, não posso deixar de pensar. Afinal, o tamboril ou adufe é instrumento popular muito utilizado no norte de Portugal. Porque não o utilizamos nas nossas igrejas evangélicas ou católicas? Certamente por uma questão de fidelidade a uma tradição que nada tem de bíblica, pois esse é um dos mais antigos instrumentos musicais que a Bíblia menciona.

Os reis de Israel tinham músicos profissionais nas suas cortes, como vemos em 2º Samuel 19:35 o que não impedia que, em certas ocasiões, houvesse colaboração de músicos do povo, como em 1º Reis 1:39/40. Muitos dos Salmos que chegaram aos nossos dias, eram as letras das músicas utilizadas no louvor do Senhor.

As nossas traduções da Bíblia referem-se às flautas e às harpas dos pastores, inclusive de David. 1º Samuel 16:16, 1º Samuel 18:10 e 1º Reis 10:12. Compreende-se perfeitamente que um pastor toque flauta, pois esse instrumento era semelhante às flautas bisel ou transversal dos nossos dias, mas penso que esta tradução por harpa não foi muito feliz, pois nos nossos dias a harpa é um instrumento grande e muito pesado. Tratava-se dum cordiforme que não tem equivalência aos instrumentos dos nossos dias, um instrumento de cordas, portátil, para ser beliscado e podia-se tocar, mesmo enquanto se caminhava. Era o ideal para um pastor que caminhava ao lado do seu rebanho.

Apesar das dificuldades duma correcta tradução que geralmente não é possível, os instrumentos utilizados na antiguidade, não eram muito diferentes dos que temos nos nossos dias. Havia instrumentos de cordas de tripa, para serem beliscados, instrumentos de sopro, como a flauta, os cornos (chifres), a buzina, as trombetas e cornetas, e instrumentos de percussão, como o adufe ou pandeiro que era o mais utilizado. Só não havia instrumentos electrónicos nessa época, nem as cordas de aço que nos nossos dias estão a substituir as cordas de tripa.

Foi o Rei David quem introduziu todos os instrumentos no culto, com o apoio técnico de Asafe, Hemã e Jedutum, que podemos considerar como os grandes maestros do seu tempo. Tratava-se dum grande número de músicos profissionais com uma rígida hierarquia, segundo podemos ler em 1º Crónicas 25. Mas Salomão foi quem deu o maior desenvolvimento, colocando os instrumentos ao serviço do Templo e contratando os melhores músicos e cantores.  

Segundo nos informa o teólogo e investigador Joaquim Jeremias, no seu livro “Jerusalém no tempo de Jesus”, cantor ou músico, no Velho Testamento, era uma profissão bem definida. Vamos transcrever uma passagem do citado livro.

Os cantores e músicos constituíam a classe superior dos levitas; somente para eles era exigida a prova de uma origem sem mácula, quando desejavam ser nomeados para o posto. Tinham por função o acompanhamento musical do culto diário, cantando e tocando instrumentos, pela manhã e à tarde e por ocasião de festas particulares.

No serviço quotidiano, o chefe do coro dos levitas e os levitas músicos e cantores, assim como dois a doze tocadores de flauta na Páscoa e na Festa das Tendas, colocavam-se sobre um estrado que formava a separação entre o átrio dos sacerdotes e o dos israelitas; achava-se um côvado acima do átrio dos israelitas, e um côvado e meio abaixo do átrio dos sacerdotes. Durante as alegres cerimónias nocturnas que faziam parte da festa das Tendas, um considerável coro de levitas cantava, de pé, nos quinze degraus que levavam do átrio das mulheres ao dos israelitas. Jamais porém, os levitas músicos ocupavam lugar no átrio do sacerdotes exclusivamente para eles reservado; apenas podiam, como qualquer leigo, entrar nesse átrio dos sacerdotes para oferecer um sacrifício.  

 

No Novo Testamento 

 

Parece à primeira vista, depois duma busca informática, ou através da chave bíblica, que são poucas as referências à música no Novo Testamento, o que não significa que não houvesse música, cuja utilização fosse tão natural, que ninguém se lembrasse de a registar, até porque não era essa a intenção dos escritores neotestamentários.

Há no entanto, várias passagens em que a música está subentendida, como Lucas 1:46/55, Lucas 1:68/79 e Lucas 2:29/32. No entanto, só Lucas registou estes acontecimentos, numa época em que ainda não havia cristãos e o ambiente era nitidamente veterotestamentário. 

No entanto, começando por João Batista, não nos parece que nesse ambiente de austeridade, houvesse lugar para a música, tal como hoje a entendemos.

Um dos motivos da aparente, pouca de referência à música no Novo Testamento, é a palavra “Aineo” que aparece em quase todas estas passagens e significava, louvor a Deus com alegria, o que normalmente incluía cânticos, sem que seja uma clara referência à música e muitas vezes foi traduzida por louvor. (Claro que a música religiosa é louvor a Deus, mas é uma entre muitas outras formas de louvor, como a oração, a vida santificada, etc.)

Vemos isso em Lucas 18:43, Lucas 19:37, Actos 2:47, Actos 4:21, Efésios 1:12, Efésios 5:19, Filipenses 1:11, Colossenses 3:16.

Não encontramos nestas passagens, qualquer referência a instrumentos musicais, embora não esteja excluída a possibilidade da sua utilização, mas pelo contexto das passagens, era certamente a voz humana o principal instrumento, e o fundamento de todos os cânticos o tal “Aineo” o alegre louvor a Deus. 

 

Música nos cultos cristãos dos nossos dias

 

Penso que o contexto cultural em que vivemos, tem (ou deveria ter), uma grande influência na música religiosa.

O crescimento do cristianismo duma maneira geral, fora da Europa, onde teve o seu maior desenvolvimento, tem sido de certa maneira prejudicado, por uma certa fidelidade das igrejas a determinados tipos de tradição musical religiosa que pouco diz às várias culturas dos nossos dias no mundo em que vivemos. Refiro-me concretamente ao Oriente, África e América Latina, onde vive a maior parte da população do nosso planeta.

Nada tenho contra a cultura ocidental. Vivo em Portugal e prefiro a música religiosa do protestantismo tradicional, com os grandes corais a várias vozes. Também aprecio a música barroca e sinto-me culturalmente mais identificado com os corais católicos do que com a barulhenta “gospel music” de determinadas igrejas evangélicas. Talvez, muitos que me conhecem se vão admirar por ter utilizado a expressão em inglês “gospel music”, pois sou abertamente contra os estrangeirismos na nossa língua. Mas neste caso, quando escrevo “gospel musicrefiro-me a determinada música evangélica americanizada, pelo seu ritmo e pelos instrumentos utilizados, embora possa ter letra em português. Isso não considero música evangélica, mas sim “gospel music”, muito semelhante à que encontramos nas discotecas.

Já alguns teólogos têm defendido a fidelidade às tradições religiosas e à utilização exclusiva nos cultos, duma música com determinadas características a que chamam de “música religiosa” ou “música sacra”. Mas a grande dificuldade está em definir que música é essa e qual o objecto dessa fidelidade.

Para determinadas igrejas, de certa maneira condicionadas por alguma forte personalidade do passado, como os luteranos, poderia ser a música da época de Lutero, ou para os adventistas, poderia ser o ambiente cultural de Ellen White. Mas se procurarmos basear a fidelidade da nossa música em Cristo, não há informação sobre o tipo de música para o culto cristão. Os textos bíblicos muitas vezes apresentados para defender uma certa ortodoxia musical, como 2ª Coríntios 6:17 e João 2:15/17, nada têm a ver com a música. São argumentos que só funcionam quando apresentados do alto do púlpito, e cedo se desfasem quando houver séria reflexão e debate teológico. 

Há quem defenda que a música em si é neutra, nunca é boa ou má. Mas se música é, como alguns a definem, “a arte de transmitir pensamentos e sentimentos por meio da combinação dos sons”, então é natural que esses sons estejam relacionados com determinados pensamentos. Por exemplo a “1812 de Tchaikovsky” não necessita de palavras para transmitir a ideia de violência. O som dos canhões é uma nítida referência à guerra.

O Dr. H. Lickey levanta e pertinente questão: “Se um jovem passa a noite de sábado na discoteca, ao som da música rock, que acabou por identificar com esse local, se no dia seguinte ouvir música semelhante numa igreja, não será pressionado pelos mesmos pensamentos do dia anterior, mesmo que a letra da música tenha sido alterada?”

Afirma ainda o mesmo teólogo que “O cristão deve possuir uma sensibilidade altamente desenvolvida para distinguir entre o que é comum e o que é sagrado”. Parece-me que esta afirmação é em parte uma confirmação da dificuldade em encontrar normas claras do que é a “música religiosa” ou “música sacra” e como a diferenciar da “música profana”.

Mas, se o próprio mundo ocidental, não consegue definir com clareza o que seja a música religiosa, o problema é bem mais difícil em África ou no Oriente. No Brasil, talvez não se note tanto o problema, por ser um país muito “permeável” a outras culturas. Embora o Protestantismo brasileiro tenha crescido muito em número, a maioria das igrejas evangélicas brasileiras continua sendo uma cópia do que se faz e se pensa na América. Pelo que vi no Brasil, penso que poucas são as igrejas que atingiram a sua maturidade cultural. Não me lembro de ver os evangélicos brasileiros louvando ao Senhor com instrumentos da cultura brasileira.

Pelo que tenho observado, quer na Índia, quer em Moçambique, as igrejas mais solidamente implantadas, são as que conseguiram melhor integração cultural e que mais cedo se conseguiram libertar dos seus missionários. Bem sei que esta afirmação, assim um tanto isolada, pode ser um tanto escandalosa, mas aconselho a ler os meus artigos “Missionários”, “Missões evangélicas” e “Evangelho e Cultura”.

A música faz parte da cultura do missionário e este geralmente a tenta implantar nas novas igrejas, ignorando ou desprezando as culturas dos outros povos, pois tenta a todo o custo manter a sua fidelidade à sua igreja mãe e fundar no seu campo missionário uma igreja tipo fotocópia da sua igreja mãe.

Vou juntar duas fotos que poderão ilustrar o que acabo de dizer, embora possam ser um tanto chocantes para as igrejas evangélicas ocidentais.

 

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Esta foto, que me enviaram, foi tirada numa igreja evangélica indiana, quando estas jovens apresentavam a mensagem da crucificação de Cristo numa igreja tipicamente indiana, sem influência ocidental. É o Evangelho apresentado por meio da dança, de acordo com a cultura indiana.

 

 

 

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Tirei esta foto numa igreja batista no norte de Moçambique em 2002. Estes jovens tocam durante o culto. À esquerda o tambor africano ao centro não sei como se chama, mas é instrumento de percussão e à direita é parecido com o adufe ou tamboril, mas mais pequeno. Esta igreja, que mantém a sua fidelidade à cultura africana, tem um pastor africano licenciado em teologia em Portugal, está em plena zona islâmica e já abriu várias missões, uma delas a mais de cem quilómetros. Que o Senhor os livre dos missionários dos nossos dias.

 

 

Quais os melhores músicos?

 

1 - Os melhores músicos para nós

 

Quando se fala em música religiosa e quando as igrejas contratam músicos profissionais, que apesar de se apresentarem como músicos evangélicos, por vezes cobram pela sua actuação valores mais elevados que os profissionais, qual é a preocupação das igrejas?

Geralmente preocupam-se que sejam músicos capazes de atrair grande número de pessoas, que já tenham dado provas dessa capacidade de “chamar a atenção” em especial da juventude, e que cantem música evangélica, ou pelo menos com letra evangélica.

Parece que nos estamos a desviar da simplicidade e espontaneidade neotestamentária e estamos a regressar ao profissionalismo da época de David e Salomão. A nossa música religiosa é cada vez mais uma forma de atrair assistentes aos cultos e cada vez menos uma genuína forma de louvor a Deus. Canta-se cada vez mais para a assistência, e cada vez menos para o Senhor da Igreja.

Estamos cada vez mais utilizando a música pela música, embora as letras das músicas possam ser doutrinariamente correctas. Temos músicos com cultura evangélica, mas sem uma genuína convicção evangélica.

Penso que está a acontecer com muitas das nossas igrejas evangélicas, o mesmo que aconteceu com as igrejas católicas em que há um grande poder mobilizador nas festas dos chamados “santos populares”, que atraem multidões devido às festas tradicionais, pessoas que mantêm a sua fidelidade a essa cultura, sem que isso represente convicção religiosa e uma verdadeira aproximação da mensagem de Cristo.

 

2 - Os melhores músicos para Deus

 

Lembro-me duma senhora nossa amiga da Marinha Grande dizer que foi de férias a Paris visitar uns familiares, residentes em França. Quando lá chegou, disseram-lhe os seus familiares que trabalhavam para a “Air France”.

- Nós estamos em greve. Amanhã vamos a uma manifestação e também vens connosco. Quanto mais gente, melhor.

- Mas eu nem sei falar francês?

- Não faz mal. Isto é fácil. Nós ensinamos-te o que vamos gritar. Basta duas ou três frases.

- E se algum jornalista me fizer perguntas?

- Nesse caso, berras ainda com mais força. Basta saber estas duas ou três frases em francês. Vais ver que isto é fácil.

Por vezes, tenho receio que estejamos a pensar em coisa semelhante para comparecer perante o Senhor. Se não estaremos a confiar demasiado em duas ou três frases muito bonitas e muito “espirituais” que aprendemos nas nossas igrejas e no nosso “linguajar denominacional” para impressionar o Senhor da Igreja.

Todos estão atentos à qualidade da música e à reacção da assistência.

Mas, quem se preocupa com o Principal da assistência? Afinal, para quem cantamos ou para quem deveríamos cantar? Aquele que não se limita, como nós, a ouvir o som, mas que sonda o mais íntimo dos cantores e dos músicos?

Qual a principal condição para pertencer ao coro da igreja? É ter boa voz? Ou ter uma vida santificada durante toda a semana, no seu emprego e na vida secular?

Se fosse o Senhor a seleccionar os seus cantores, certamente que os coros das nossas igrejas seriam bem diferentes e talvez mais parecidos com o que iremos ouvir na Casa do Pai, quando Ele nos chamar.

 

Conclusão

 

Penso que, em conclusão, para responder à questão colocada pelo irmão Fábio Cruz, não pode haver uma resposta para todos os casos. Não há normas sobre música religiosa que possam ser impostas a todas as igrejas, em todas as épocas e em todas as culturas.

Por um lado, penso que há certos tipos de música que devemos evitar. Se, como diz o nosso irmão Fábio Cruz, na mensagem que me enviou, determinado tipo de música está a causar discórdia, só por esse facto, julgo que o bom senso aconselha a evitar tal tipo de música, quando o povo evangélico a rejeita, por relacionar tal música com determinados ambientes ou quando nada disser à cultura do povo local, embora possa ter muita aceitação para o missionário.

A mensagem do Evangelho deve ser transmitida na cultura dos vários povos 1ª Coríntios 9:19/23

Em parte concordo com os que dizem que a música em si, é neutra, não é boa nem má, mas não podemos ignorar que o povo relaciona certo tipo de música com determinados ambientes, facto que pode prejudicar a apresentação do Evangelho.

Não nos devemos iludir com os resultados imediatos, e não podemos esquecer de que nem tudo que serve de atracção para o grande público tem a aprovação do Senhor.

No entanto, tal avaliação tem de ser feita pelos crentes das várias igrejas tendo em consideração a sua realidade cultural que só eles conhecem a fundo. O Pastor ou missionário, poderá e deverá orientar nessa avaliação, mas só os crentes de cada lugar saberão como ninguém, quais os impactos (negativos ou positivos), de determinado tipo de música nas suas igrejas.

As duas fotos que juntei são um exemplo disso. A apresentação do Evangelho em Portugal ou no Brasil com essas bailarinas indianas seria um escândalo, mas é perfeitamente aceitável numa igreja indiana, assim como o tambor africano perfeitamente integrado numa igreja africana, seria numa igreja em Portugal escândalo tão grande como um órgão electrónico numa igreja evangélica no interior de África.

Se Paulo vivesse nos nossos dias, penso que em primeiro lugar ele iria estudar a cultura do povo a quem vai apresentar a mensagem do Evangelho, para que este seja apresentado não só na língua, como na cultura desse povo. Pois não é o povo que tem de abandonar a sua cultura, mas o missionário que tem de se integrar culturalmente, embora uns e outros se tenham de se reger pelo Evangelho que é incultural.

Se Paulo ressuscitasse e entrasse nas nossas igrejas, penso que ele ficaria admirado e talvez escandalizado com o piano e o órgão electrónico e talvez se sentisse mais identificado com o tambor e a música espontânea duma igreja africana, o povo que melhor canta, para louvor do Senhor.

Já conheci muitas culturas e muitas formas de louvar ao Senhor. Sou aberto a todas as formas de louvor. Mas, no caso concreto apresentado pelo nosso irmão Fábio Cruz, será que essa “música pesada” faz parte da cultura popular no norte de Portugal? Não será que muitos crentes consideram isso como uma “agressão cultural”? Só os crentes dessa cidade poderão responder. Também poderíamos colocar outra questão: Todos esses jovens que vieram assistir a esse concerto de “música pesada”, estariam dispostos a voltar no dia seguinte para um culto de oração ou de estudo bíblico, se não houver música?

Não podemos ignorar que a Igreja do Senhor está dividida em vários povos, línguas e culturas. Não nos compete centralizar ou uniformizar a Igreja, pois esse tem sido o grande erro de muitos Papas e muitos missionários. Não há dúvida de que temos uma grande diversidade nas músicas e outras formas de louvor. Mas há um ponto em comum, que nós não compreendemos bem, pois não é a nós os crentes que compete julgar seja a quem for. Só o Senhor sabe qual o verdadeiro louvor que Ele aceita.

Até porque, quando a “… grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas….” que vemos em Apocalipse 7:9 tiver de louvar ao Senhor, não haverá mais problemas de línguas e traduções, culturas ou instrumentos musicais, pois Ele lhes dará o novo cântico previsto em Apocalipse 5:9. 

 

Camilo Marinha Grande, Portugal

Abril de 2005

 

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas