João Ferreira de Almeida (MC)
O primeiro português que se sabe com segurança ter abraçado
publicamente o Protestantismo foi João Ferreira de Almeida (1628 – 1691). A sua
conversão, no entanto, ocorreu fora das fronteiras nacionais, na ilha de Java
(actual Indonésia), então sob domínio holandês.
Nasceu João Ferreira de Almeida em Mangualde, num lugar chamado
Torre de Tavares, de onde, menino ainda, saiu para
Lisboa, para casa de um tio padre. Por motivos até agora ignorados, aos 14 anos
encontra-se em Java. É ali, que, depois de ter lido um folheto em espanhol
intitulado “Diferença da Cristandade Reformada e Romana”, se converte à
Reforma.
Em 1642 João Ferreira de Almeida faz a sua profissão de fé na
Igreja Reformada de língua portuguesa existente em Batávia
e que era missão da Igreja Reformada Holandesa. O português era a língua usada
pelos vários povos daquelas paragens na sua comunicação.
Mais tarde, Ferreira de Almeida entrou no ministério da Igreja
Holandesa, primeiramente como “visitador de doentes” e, em seguida, como “pastor-suplente”.
Em 22 de Julho de 1658 foi submetido a exame em matérias
teológicas e, aprovado, veio a ser ordenado ao ministério pastoral em 16 de
Outubro do mesmo ano.
Para facilitar a acção evangelística
entre os povos que conheciam e usavam a língua portuguesa no Oriente, os
“padres holandeses” e o “padre português” (é interessante observar que a
primeira designação escolhida para os ministros evangélicos foi a era já usada
na Igreja de Roma) julgaram indispensável proceder-se à tradução da Bíblia para
a nossa língua. Esta é invariavelmente a primeira preocupação dos protestantes
quando se propõem evangelizar: colocar a Escritura no vernáculo. Como é
natural, foi o padre português que se incumbiu dessa missão. Conhecia já as
línguas bíblicas (hebraico e grego) e conhecia bem o latim que aprendera com o
seu tio clérigo, além de saber o francês, o espanhol e o holandês. É bem
provável que tenha usado versões nessas línguas para proceder à tradução dos
textos originais. Quando morreu, em 1691, o seu trabalho não estava ainda
completo, pois se o Novo Testamento já viera à luz em Java, dez anos antes da
morte do seu tradutor, o Antigo Testamento ficou-lhe pelo profeta Ezequiel.
O seu trabalho foi continuado por pastores holandeses e só em 1753
foi integralmente editado em português. Esta versão designada “do Padre João
Ferreira de Almeida”, é ainda usada pelos cristãos evangélicos de língua
portuguesa (Portugal, Brasil, antigas colónias de África, comunidades de
protestantes de emigrantes ou seus descendentes espalhados pelo mundo) embora,
na verdade, depois de tantas correcções e actualizações que lhe foram feitas
nestes dois últimos séculos, já seja um tanto incorrecto ainda lhe chamar
“versão Ferreira de Almeida”, porque do primeiro pastor português já muito
pouco tem. Mas é sem dúvida alguma, a homenagem que os protestantes lusófonos
prestam à memória daquele operoso cristão.
Transcrição do livro “Por Vilas e Cidades”
de autoria
do Pastor Manuel Pedro
Cardoso
Edição do Seminário Evangélico de Teologia - Lisboa 1998