ÍNDIA URGENTE (CC)

 

 

 

É o título duma mensagem que tem circulado pela internet, que a seguir transcrevemos, para levar ao conhecimento dos evangélicos de língua portuguesa, algumas considerações que os possam ajudar a assumir uma atitude mais esclarecida e mais de acordo com a mensagem de Jesus.

 

1ª Parte  (Outubro de 2001)

 

“Assunto: ÍNDIA URGENTE

Caros guerreiros de oração.

Aqui está um desafio urgente  para a nossa fervorosa intercessão!

O assunto é tão impressionante que alguns até duvidaram da veracidade da informação que circula pela Internet: 300 milhões de hindus, cansados da discriminação e exclusão social decidiram mudar de religião. No próximo dia 04 de novembro de 2001, líderes dos párias hindus se reunirão na Índia para decidirem que religião adotar entre Cristianismo, Islamismo e Budismo.

Um dos seus líderes mais importantes é Ram Raj, que viajou até Colorado Springs (USA) para encontrar-se com o Dr. Rochunga Pudaiti e passar o fim-de-semana aprendendo sobre Jesus Cristo. Ram Raj disse ao Dr. Pudaiti que ele e outros líderes têm estado investigando as religiões.

Os líderes budistas e muçulmanos disseram a Ram Raj que estariam dispostos a qualquer esforço para trazer esses 300 milhões de hindus para os seus arraiais.

Ram Raj disse ao Dr. Pudaiti que estava profundamente decepcionado com alguns líderes cristãos que haviam dito não poder ajudá-los porque não saberiam administrar a repercussão dessa questão diante das autoridades da Índia.

O Cristianismo, disse Ram Raj, seria a sua primeira opção. O Dr. Pudaiti  ofereceu a sua ajuda quando ficou decidido que Ram Raj fizesse aquela viagem aos Estados Unidos.

O Dr. Pudaiti foi então convidado para fazer uma apresentação do Cristianismo na reunião decisiva dos líderes hindus, marcada para o próximo dia 04 de novembro.

Um  grande escritor cristão (discípulo do Dr. Francis Schaffer) distribuirá 100 mil cópias do livro “O Caminho para a Liberdade e Dignidade”, para os líderes hindus naquele dia. Eles estão esperando imprimir 1 milhão de evangelhos de João para distribuir no mesmo dia.

A expectativa é de que inicialmente um milhão de líderes tomem a decisão de seguir a Deus ou a deuses diferentes. Dentro de um mês, a partir daí, esperam que 5 milhões se tornem seguidores e dentro de um ano já tenham alcançado 50 milhões.

Seria bom, para quem puder, estar presente ali na Índia no dia 04 de novembro para interceder pela salvação de 300 milhões de almas. As orações de intercessão devem cobrir todo o processo de transição através do ano.

Por favor repasse esta mensagem para o maior número possível de E-mails, Igrejas e Companheiros de Oração.

Segundo Ram Raj sua segurança e sua própria vida dependem dessa informação alcançar o maior número possível de pessoas.

Quem pode se comunicar em Inglês e quiser conectar-se para maiores informações dirija-se a Ian Christie vocesofprayer@alltel.net <mailto:vocesofprayer@alltel.net> 

Em CRISTO, pela salvação dos perdidos

Rafael Lopes - Kairos-Asia”

 

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1. O que é o hinduísmo

 

Não sou um especialista em hinduísmo, pelo que convido qualquer hindu que tenha acesso a esta página, a escrever, enviando-me eventuais correcções ou aditamentos a este meu artigo.

Dos volumosos escritos hindus, redigidos entre os anos 1400AC a 500DC só tenho uma tradução em português do Bhagavad Gita, que é aliás o livro mais lido e mais divulgado. Trata-se fundamentalmente dum diálogo entre Krishna e o guerreiro Arjuna, prestes a lutar contra os seus primos e é um apelo à paz e tolerância. 

Aliás, o hinduísmo é talvez a única das grandes religiões que pode orgulhar-se do facto de nunca ter originado quaisquer guerras ou conflitos, devido ao seu tradicional apelo à tolerância.  Há quem considere o hinduísmo não como uma religião, mas um conjunto de religiões que conseguem conviver pacificamente e onde há “espaço” para politeístas, monoteístas, agnósticos e até ateus. Afirmam que “há várias maneiras de se olhar para um objecto, todas elas nos dão uma visão verdadeira, mas nenhuma nos dará uma visão total do objecto”.

 

2. A realidade dos nossos dias

 

A União Indiana tem as suas leis civis, e não compete ao seu Governo interferir nas várias religiões. Embora a União Indiana seja governada actualmente pela BGP (Bharatya Janata Party) partido maioritariamente hindu, o mais votado nas últimas eleições, são as leis civis e não as religiosas que prevalecem no país.

É verdade que há casos em que outras religiões se queixam de parcialidade e discriminação religiosa, mas afinal o mesmo acontece em Portugal em relação ao Catolicismo Romano que goza dos privilégios duma Concordata com o Vaticano e o mesmo se poderia dizer da Igreja Anglicana na Inglaterra e da Ortodoxa Grega na Grécia. Embora haja liberdade de religião, nem sempre existe a tão desejada igualdade de tratamento entre todas as religiões.

Penso que na Índia, assim como em Portugal ou no Brasil, o Governo não pode interferir nos assuntos internos de cada religião. Se os hindus quiserem continuar a dividir as pessoas nas várias castas, dos brâmanes aos párias, sob o aspecto religioso, ou se os católicos dividirem os seus crentes em igreja docente e leigos, ou se os evangélicos dividirem os seus crentes em pastores, diáconos e leigos, isso são problemas internos de cada religião, em que os vários governos não podem interferir. O importante é que essa divisão só funciona para efeitos religiosos. 

Já há muito tempo que a Índia é governada pelas suas leis civis que defendem a igualdade entre todos os seus cidadãos, embora se observem, por vezes alguns casos isolados de preconceitos de casta, assim como se mantêm atitudes racistas nos USA ou na África do Sul, embora as leis racistas tenham sido abolidas nesses países há relativamente poucos anos.

O Governo indiano tem efectuado um esforço no sentido de melhorar o nível de vida dos mais desfavorecidos, que até gozam de certos privilégios no acesso às universidades, e  julgo que não faz sentido a referência à exclusão social a que se refere a mensagem que recebi, sem especificar concretamente a que tipo de exclusão se referem. A União Indiana, é uma democracia e é aos partidos políticos que compete a resolução destes problemas.

Já estive três vezes na Índia e tive oportunidade de conversar com hindus que são pessoas receptivas e simpáticas. O hinduísmo é uma religião tão tolerante que não faz qualquer sentido algum dirigente religioso tomar uma decisão destas em nome dos 300 milhões de hindus, pelo que considero esta mensagem como um insulto à Índia, provavelmente com origem nos USA e que só poderá ter aceitação em países de baixo nível cultural, que imaginem uma Índia dividida em castas nos nossos dias, caso tão insólito como alguém no Oriente imaginar que pessoas possam ser mortas nas fogueiras da Inquisição no Ocidente dos nossos dias.

Mas afinal, em que ponto da Índia se vai realizar essa reunião decisiva dos líderes hindus?  A expressão utilizada “estar presente ali na Índia” parece de quem imagina a Índia como uma pequena aldeia, esquecendo que se trata do segundo país em população, com mais de mil milhões de habitantes e mais de três milhões de quilómetros quadrados de extensão.

Ainda segundo a mensagem que circula pela internet, quem quiser mais esclarecimentos sobre o que se passa na Índia, deverá contactar....., não com a Índia, mas com os americanos ?!!!

Assim não, obrigado.... Resolvi contactar, não com os USA,  mas com a Índia directamente, para saber o que por lá se passa.

 

No dia 24 de Outubro de 2001, o jornal “The Navhind Times” de Goa, transcreveu a seguinte notícia, publicada noutro jornal de Nova Delhi, que traduzimos para português.

 

 Mais de 1 milhão de “dalits” convertem-se ao budismo (Dalits é termo regional do inglês falado na Índia, que significa intocável, pária, pessoa oprimida.)

 

Nova Delhi, 23 Outubro 2001 (IANS):

Um milhão de dalits vão converter-se ao budismo no próximo mês, no que será o maior evento mundial deste tipo. Disseram os organizadores na segunda-feira.

Eles estavam cansados da tortura física e mental da casta alta hindu, disse o Sr. Ram Raj da All-India Confederation of Scheduled Caste/Schedules Tribes Organizations (Confederação Geral Indiana das Castas e Tribos Atrasadas).

“Os dalits vão-se libertar da opressão do sistema das castas e vão fortalecer-se,” disse ele aos jornalistas aqui, dando pormenores do programa do dia 4 de Novembro. O seu grupo afirma ter quatro milhões – a maior parte deles empregados do Governo Indiano.

“Os dalits vão ser libertados dessa dependência mental. Aceitando o budismo, não nos estamos a converter. Estamos apenas a reafirmar os nossos valores,” disse o Sr. Raj.

Na cerimónia de meia hora, monges vão ler textos budistas na antiga língua Pali.

Cada um desse milhão de convertidos, receberá também um livro de 100 páginas, descrevendo o essencial do budismo e os rituais que têm de observar.

A maior parte dos convertidos será do norte da Índia. Todos eles, seja sublinhado, virão a Nova Dehli pagando eles próprios a passagem, disse o Sr. Raj. “Nós vamos gastar à volta de 1 milhão de rupias no palco e outros preparativos.”

A cerimónia será efectuada nos Campos Ramlila, junto do velho bairro da cidade.

Esse local é bem conhecido pelas peças teatrais anuais que contam a história do deus hindu Rama.

Em 4 de Novembro o local do encontro será renomeado “Campo Ambedkar”.

“O Estado, o Governo e sociedade, recusaram-se a ouvir os nossos apelos. Eles falharam em sentir a nossa dor. Eles não se deram ao trabalho de limpar as nossas lágrimas. Eles não têm esperança a oferecer e desrespeitaram inteiramente o direito de igualdade para com os dalits”, foi a acusação.

Ao mesmo tempo, ele admitiu que a conversão para o budismo não irá beneficiar a maioria dos dalits dum dia para o outro. “Tem que haver uma mudança de atitude. Se o meu povo conseguir mudar a sua mentalidade, então temos esperança de que consigam mudar a mentalidade de outros,” ele disse, apontando como exemplo a evolução da discriminação racial nos Estados Unidos. 

“Os negros não mudaram o sistema. Foram os brancos que mudaram o sistema. Um movimento semelhante tem de acontecer aqui. “Infelizmente, nada mudou para os dalits em 54 anos da independência da Índia.

Todas as salvaguardas que Ambedkar pôs na Constituição, todas as acções positivas que ele lutou para integrar, como políticas do Estado e obrigação Nacional, têm sido desrespeitadas a sangue-frio pela elite governante e pelas castas altas,” segundo  afirmou.

 

É uma notícia um tanto estranha.

Afinal, trata-se de um milhão e não dos 300 milhões, e o que está em causa é a conversão ao budismo e não há qualquer referência ao cristianismo nem ao islamismo. Por outro lado, eles dizem-se hindus, mas essas manifestações não parecem ter nada da cultura hindu.

Não podemos esquecer de que a Índia dos nossos dias é uma democracia. Embora grande parte da sua população ainda continue a buscar a solução dos seus problemas económicos e sociais na religião, gradualmente tais métodos vão sendo substituídos pelas manifestações e reivindicações junto aos governantes.

Parece-me muito estranho que para contactar com os cristãos, o Senhor Ram Raj não tenha mostrado qualquer interesse pelo Vaticano, a sede da maior igreja cristã, nem se tenha dirigido à Alemanha o “berço” do Protestantismo, e o mais insólito é que não se tenha lembrado da Igreja Católica Indiana nem das várias igrejas evangélicas na Índia, mas foi aos USA para investigar o cristianismo ?!!!  Será que o problema é teológico ou simplesmente económico ?

Segundo as últimas notícias recebidas da Índia, os outros organizadores dessa reunião ficaram furiosos com os exageros e notícias sensacionais divulgadas pelos “evangélicos”, bem como o oportunismo ligado ao assunto e decidiram que nenhum cristão poderá usar da palavra nessa reunião do dia 4 de Novembro.

 

3. O que é o evangelismo.

 

Fico escandalizado, não só com a aceitação que certos evangélicos, alguns até com cargos de responsabilidade, dão a este tipo de mensagens, mas principalmente com este conceito de evangelismo.

Vamos admitir que a notícia é verdadeira, que há de facto um grande grupo religioso que devido a problemas económicos quer aderir ao cristianismo, que quer vir para “os seus arraiais” para mencionar a expressão utilizada na mensagem que recebi.

Então é isto o Evangelho de Jesus?  Será isto a conversão?  Onde está o arrependimento dos pecados?  Já não há o encontro com Cristo?  Não estaremos a transformar o Evangelho em simples estratégia económica?  Ou em partido político?

Penso que estamos perante uma consequência da cosmovisão do homem dos nossos dias, em que Deus já não está no centro do seu pensamento, pois foi substituído pelo próprio ser humano, que no entanto, está pronto a aceitar qualquer deus ou deusa, desde que lhe seja útil. Não interessa tanto se esse deus ou deusa é verdadeiro, o que importa é que tenha utilidade, que funcione e se tiver muitos US$s ainda melhor.

 

4. Quais os objectivos da mensagem que recebi?

 

Não sei o que pretendem, os que deram origem a uma mensagem destas, mas várias hipóteses podem ser colocadas:

4.1 Atendendo à origem desta mensagem, a ao convite para que se contacte com a América para saber o que se passa na Índia, penso que temos fortes indícios de que se trata de propaganda dos americanos, com a finalidade de afectar o prestígio da União Indiana e aumentar a influência americana na Índia, servindo-se da religião, aproveitando este conflito social na Índia.

4.2 Pela maneira como o assunto é apresentado, nomeadamente o interesse dos islâmicos e budistas em contraste com a indiferença dos evangélicos, poderá tratar-se do “prelúdio” destinado a criar o ambiente e a emoção necessárias a um grande peditório, em que se irá exigir ainda mais aos nossos crentes.  Vamos aguardar para ver se isto se confirma. 

4.3 Poderá ainda tratar-se dum “hindu” que tenha tentado um meio de se auto-promover e ir buscar alguns dólares aos USA. Essas técnicas de auto-promoção, bem poderia aprender com os pastores evangélicos americanos. Não há dúvidas de que escolheu o local certo, mas parece que os outros organizadores hindus não foram tão ingénuos com ele esperava.

Ainda bem que tal estratégia não resultou. Se ele conseguisse levar muitos US$s  para a Índia, talvez até conseguisse que alguns “hindus” se tornassem “evangélicos”, mas quando os dólares se acabassem, tudo voltaria ao estado inicial, pois genuínos evangélicos não se fabricam com US$s, nem tais conversões podem ser programadas de acordo com interesses políticos ou estratégia militar.

 

Em qualquer dos casos, penso que os verdadeiros crentes, os que não se deixam telecomandar tão ingenuamente, têm a obrigação de reagir e desmascarar estas manobras políticas que se servem da religião e estes falsos profetas que nunca compreenderam o Evangelho.

 

Em Cristo, pela evangelização dos “evangélicos”

Camilo – Marinha Grande

 

 

 

 

ÍNDIA URGENTE – 2ª Parte  

Novembro de 2001

 

 

Jornal de Goa “Navhind Times”  2001/11/05  (Tradução)

O movimento para conversão de milhões de dalits (intocáveis) ao budismo, afinal não passou duma “tempestade num copo de água”.

 

Nova Delhi, 4 de  Nov. 2001: O programa tão apregoado da conversão em massa de dalits ao budismo, afinal como hoje se verificou, não passou duma “tempestade num copo de água”,  só com alguns milhares de pessoas comparecendo em Ambedkar Bhawan (Casa Ambedkar) no centro da cidade de Delhi, depois da polícia recusar a autorização para realizarem a cerimónia nos Campos Ramlila. 

“All India Confederation  of SC/ST Organisations - AICSSO”, (Confederação Geral Indiana das Castas e Tribos Atrasadas), que inicialmente anunciara um programa para a conversão de um milhão de dalits ao budismo no Campo Ramlila, teve de transferir a cerimónia para a Ambedkar Bhawan (Casa Ambedkar) depois da polícia lhes negar a autorização afirmando que tal autorização poderia afectar a ordem pública. 

Cerca de 3000 pessoas reuniram-se na Casa Ambedkar numa grande confusão e não ficou claro quantas pessoas na realidade aceitaram o budismo, porque nem os próprios organizadores estavam em condições de fornecer os detalhes e os dados correctos. 

No entanto, um dirigente da AICSSO, afirmou: “Vários milhares de dalits converteram-se ao budismo nesta cerimónia”, referindo-se à maioria desses milhares que não chegaram a Delhi  por estarem noutros Estados como: Uttar Pradesh, Punjab, Bihar, Madhya Pradesh, Chhatisgarh e Jharkhand. Alguns deles eram funcionários do Governo, como o Sr. Raj, e outros eram operários. 

O Presidente de AICSSO, Sr. Ram Raj, criticou o Governo devido à proibição da cerimónia se realizar no Campo Ramlila, afirmando que tinham planejado um programa pacífico. 

Ele declarou que adoptara o nome de Udai Raj depois da  sua conversão, afirmando que milhares de pessoas foram impedidas pela polícia de entrar na cidade de Delhi.

Voluntários dalits dirigidos pelo Sr. Raj encheram um outro palco. O Sr. Raj exortou continuamente os participantes a “quebrar as cadeias do hinduísmo”. Ele afirmou que a polícia impedia a passagem dos voluntários nos acessos à cidade de Delhi e na estação ferroviária. 

A polícia negou esta acusação afirmando que permitiram o livre acesso aos Campos Bhawan.  “Mas como a festividade de conversão foi proibida, tivemos que a impedir", afirmou um oficial da polícia. Mas Raj discordou, afirmando:  “O governo da União Indiana é repressivo e antidemocrático. Tudo que acontece aqui é uma violação dos direitos humanos. Mas nós não vamos parar enquanto não obtivermos o que nos pertence democraticamente”.

A reunião culminou com o Sr. Raj gritando, as pessoas levantando cartazes com frases contra o Primeiro Ministro, Sr. A. B. Vajpayee e o Partido Bharatiya Janata, acusando-o de “representar” a casta alta hindu. 

Prithpal Singh, um sikh de casta inferior do Punjab, com o seu típico turbante, declarou que se convertia ao budismo “devido à discriminação que encontrava tanto no hinduísmo  como no  sikhismo”. Segundo R. K. Shankar, contabilista em Kanpur,  “Aceitamos o budismo porque o sistema de castas hindu não nos respeita e somos discriminados”. 

Ramapati Lokbandhu Ratnakar, agricultor dalit de cidade de Basti, Uttar Pradesh, que se converteu ao budismo há três anos disse que a sua vida tinha mudado. “Tenho encontrado uma grande diferença e a minha moral tem sido elevada, pois posso estar de pé diante de qualquer outra casta hindu”. 

Segundo informou o Sr. Raman Kutty, presidente da unidade do Sr. Raj no Estado de Kerala:  “Até mesmo um oficial superior dalit é tratado como um oficial subalterno de IV classe. Enquanto um brâmane, mesmo que seja oficial subalterno, é tratado se fosse um oficial superior”. 

Mas a multidão parecia mais festiva do que meditativa. Muitos deles empunhavam cartazes de Ambedkar que fez parte da Comissão que redigiu a Constituição indiana, bem como imagens de Buda adquiridas nos vinte antigos armazéns das proximidades. Ainda outros trouxeram pequenas estátuas de Buda.

Também havia alguns sacerdotes cristãos que, no entanto, negaram estar ali para motivar os participantes na conversão ao cristianismo. Afirmaram que estavam ali “para oferecer apoio moral aqueles que procuravam libertar-se da opressão”. 

Eles negaram as constantes afirmações do Vishwa Hindu Parishad (Congresso Hindu Mundial) de que o Sr. Raj estava sendo aliciado pelo cristianismo. 

“A nossa presença aqui não deve preocupar a ninguém. Estamos somente a defender os nossos direitos democráticos”, afirmou o bispo M. A. Thomas, Administrador encarregado do “Hope Givers” (Doadores de Esperança Internacional), que acrescentou. “A nossa organização teria reagido se nós não tivéssemos vindo aqui. Portanto, não podemos ser alheios a este problema”.  

Navhind Times - Goa

2001/11/05  

 

 

 

Navhind Times  (Jornal de Goa) em 2001/11/07   (Tradução)

Dalits (intocáveis) alegram-se pela sua conversão ao budismo 

 

Nova Delhi, 6 de Novembro (IANS): A cerimónia de iniciação ao budismo demorou menos de 30 minutos, mas para esse homem de 55 anos Ram Chander que se converteu ao budismo, isto mudou a sua vida - ou pelo menos é o que ele pensa.  

“Nestes 55 anos, já sofri suficiente discriminação que corresponde a várias vidas”, afirmou Chander orgulhosamente, depois de se tornar budista. Agora mal posso acreditar que nunca mais serei da casta inferior hindu, mas sim um budista livre.” 

Realmente, a discriminação das castas foi denunciada por todos os que no Domingo renunciaram ao hinduísmo. 

Embora Nova Delhi tenha revogado a discriminação das castas, dizem os dalits que a secular discriminação e exploração pelas castas superiores continua até aos nossos dias. 

Na cerimónia de Domingo, realizada apesar da proibição policial, um monge budista com uma túnica cor de açafrão, rezou perante uma estátua de bronze de Buda com metro e meio de altura que se esforçaram por manter ao ar livre. 

Então milhares entoaram o solene juramento de “Eu busco refúgio na protecção de Buda”.  

Chander recordou como até mesmo os motoristas de caminhão simplesmente porque serem hindus de castas superiores, atacaram um dalit numa cantina aproxima da sua aldeia em Rajasthan onde passava as noites, enraivecido porque ele também lá foi tomar chá. 

Os motoristas ameaçaram o dono da loja para que não recebesse os dalits.  

“Depois deste incidente, sempre que tomamos chá em qualquer restaurante dessa área, a chávena é quebrada se o dono descobre que somos dalits. Se nós não somos considerados hindus pelos brâmanes. Então o que é o hinduísmo ?"  

 

 

Conclusões

 

Estas são as informações que me foi possível obter.

Como afirmei na primeira parte deste artigo, também recebi a tal mensagem com o título “Índia Urgente” que muitos evangélicos em todo o mundo se apressaram em espalhar por todos os amigos e conhecidos, na melhor das intenções, mas após investigar este assunto, não pela forma que nos é sugerida através de contactos com os USA por falta de credibilidade de tais “informações”, mas pela forma que me pareceu a mais lógica e a mais correcta, contactando  com a própria Índia, para saber o que por lá se passa, penso que as minhas conclusões podem ter certo interesse para esclarecimento de todos os cristãos de língua portuguesa, tanto evangélicos como católicos, razão deste artigo.

Em face destas informações, cada um poderá tirar as suas conclusões, e até enviar-me os seus comentários se assim o entender.

Penso no entanto que:

 

1) Inicialmente, nessa mensagem, falava-se em trezentos milhões (300 000 000).

As notícias dos jornais indianos mencionavam um milhão  (1 000 000)

Afinal compareceram cerca de três mil pessoas (3 000)

Quantos estarão daqui a um mês ? 

 

2) Esse número, três mil pessoas, tem de ser ponderado no contexto indiano, o segundo país em população, com 1033 milhões de habitantes. Isso corresponde a 0,00029 % da sua população. Ou para termos uma ideia dos números, na mesma proporção, se fosse no Brasil  com 172 milhões seriam 500 pessoas e em Portugal com 10 milhões seriam só 29 pessoas !!!

 

3) Não sei se houve alguma genuína conversão, pois somente vimos referências a aspectos sociais e nunca a pormenores doutrinários. Para se falar em conversão seria necessário que houvesse verdadeiros hindus e que esses se tivessem tornado verdadeiros budistas. Mas será que isso foi possível só com os esclarecimentos de 30 minutos ?  Será que eles na verdade aceitaram o budismo devido a esses esclarecimentos, ou já vieram mais motivados a rejeitar o hinduísmo do que a aceitar seja o que for ?

 

4) Esta descrição dos jornais indianos, de toda essa confusão, misto de celebração festiva e ao mesmo tempo gritos e cartazes com referência aos seus políticos....  mais parece uma manifestação de sindicatos para reivindicar regalias sociais do que ambiente de reflexão teológica.

 

5) Penso que se trata dum problema social que não é possível resolver dum dia para o outro. Problema social a que tentaram dar uma interpretação teológica, num país em que a religião ainda continua a afectar o comportamento das classes mais humildes, possivelmente com a finalidade de servir de “rampa da lançamento” de algum novo dirigente político, se conseguir mostrar a sua capacidade de influenciar as multidões, mesmo que não tenha possibilidades de resolver os seus problemas. Mas a avaliar pelos números, só 3000 pessoas, num país como a Índia!!!, parece que não foram bem sucedidos.

 

6) Já estive por três vezes na Índia, e não me parece que na União Indiana dos nossos dias se possa culpar qualquer religião dos seus problemas sociais ou  que a religião, seja ela qual  for, tenha a solução para os problemas do grande desnível social, que também se nota aliás em muitos países católicos e protestantes, embora com menor intensidade. Não me parece  que seja essa a principal função do Evangelho, embora como crentes em Cristo não possamos ficar indiferentes a tais problemas.  Afinal, também no Brasil e em Portugal temos desses problemas e não podemos culpar o hinduísmo dos nossos problemas sociais.

 

7) Quanto à repugnância que as outras castas sentem, não digo pelos dalits, mas pelo menos por alguns deles, é melhor tentar compreender o problema do que condenar seja quem for.

Lembro-me de  que certo dia em Goa, de manhã cedo, ao abrir dum estabelecimento comercial, a multidão aglomerava-se e apertava-se para chegar primeiro.  Eu também lá estava para ser atendido, e já ninguém sabia quem tinha chegado primeiro.   Mas nessa altura chegam duas ou três pessoas....   não sei se seriam dalits  pois não os sei reconhecer, mas estavam tão sujos, com cheiro tão detestável, com aspecto tão repugnante.... que tiveram “prioridade de passagem”.

Eu também me afastei para eles passarem e foram  o primeiros a ser atendidos. Mas isso poderia acontecer em qualquer cidade, em qualquer parte do mundo.

 

8) Penso que afinal, a atitude desses dalits que se “converteram”  ao budismo está mais de acordo com o pensamento da modernidade, do ambiente secular que se nota um pouco por todo o mundo, do que com o pensamento religioso do hinduísmo ou do budismo.   A cosmovisão antropocêntrica dos nossos dias, leva-os a aceitar qualquer deus ou deusa, desde que seja útil. Se são ou não verdadeiros, isso é secundário, pois a principal preocupação do homem secularizado dos nossos dias, quer seja na Índia ou em qualquer outro ponto do nosso planeta, é que funcione, que seja útil.  Esse pequeno grupo de dalits chegou à conclusão de que os seus deuses não lhes eram favoráveis e simplesmente condenaram os seus deuses hindus à não existência. Mas será que isso irá resultar no íntimo desses dalits ?  Será possível em 30 minutos abandonar uma tradição milenar tão profundamente arreigada, talvez não tanto como convicção teológica, mas pelo menos como tradição ?

 

9) Afinal, o que se passou com este grupo de dalits, não foi nada de novo. O budismo teve origem na Índia cerca de quinhentos anos antes de Cristo, com base nos dalits que abandonaram o hinduísmo e tal tem continuado a acontecer através dos tempos.  Mas suspeitamos de que estas “conversões” apressadas e precipitadas não tenham sido fruto de meditação ou de convicção teológica. Será que com o passar dos tempos, não vendo as rápidas mudanças que desejam, a crença nesses deuses milenares não irá voltar ?!!!

 

10) Por último, e em conclusão, direi que este acontecimento me faz lembrar a atitude no nosso Mestre em João 2:23/25 E estando ele em Jerusalém, pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem. Esses a que esta passagem dos evangelhos se refere, eram pessoas que acreditaram nos sinais que Jesus fazia, nas curas, na transformação da água em vinho, e posteriormente na multiplicação dos pães e dos peixes. Eram certamente pessoas prontas a pegar em armas para lutar pelo “seu Messias” que os iria libertar do domínio dos romanos, mas que não o aceitava como o “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” e exige arrependimento e novo nascimento.  Jesus não confiava neles e retirou-se pois não podia sujeitar-se a ser o “messias” que a multidão exigia.

Felizmente que o Evangelho não foi anunciado nessa reunião que tanto foi divulgada entre os “evangélicos”.

 

Camilo – Marinha Grande