Cair da Graça (PM)

O que é a graça? Pode-se cair da graça?

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

 

Primeiramente, devemos definir a graça como sinônimo de: benevolência, misericórdia, compaixão, clemência; assim, entenderemos o Salmo 90:17 onde se lê: “E seja sobre nós a graça do Senhor nosso Deus: e confirma sobre nós a obra das nossas mãos; sim confirma a obra das nossas mãos.”

Aqui o salmista clama a misericórdia do Senhor, confiante em que Ele confirmará, ou seja, julgará com clemência todo o seu proceder.

Assim vemos a graça de Deus, no Velho Testamento, que ainda não significava a graça salvífica que viria com o Messias, sem a qual nenhuma alma se salvaria.

A característica principal do Evangelho e que demarca muito bem o período neotestamentário é a graça; conforme a entendemos em Lucas 2:40: “E o menino crescia, e se fortalecia no espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.”

Crescer, fortalecer-se no espírito, cheio de sabedoria assim aconteceu com profetas (Samuel, Elias, Eliseu...) e com Salomão em sabedoria, mas em Graça só mesmo Jesus.

 

Que graça era essa que estava com Jesus?!

Era o perdão; e o perdão é a expressão maior do amor de Deus.

O perdão é imanente de Deus e quem perdoa identifica-se com Deus; e Dele é reconhecido.

“Mas contigo está o perdão para que sejas temido.” Salmos 130:4

Disse Jesus diante de uma pecadora que lavava-Lhe os pés com lágrimas, secava-os com seus cabelos e os ungia com unguento:

“Os teus pecados te são perdoados. E os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que até pecados perdoa.” Lucas 7:48/49.

E também, assim o disse ao paralítico em Cafarnaum:

“…. Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados”. Mateus 9:2

Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados (disse então ao paralítico): Levanta-te; toma a tua cama e vai para a tua casa.” Mateus 9:6

Diante do que até aqui expusemos, pode-se dizer que no período da Lei (Velho Testamento) a graça era manifesta pela benevolência de Deus concedida aos homens; mas, no período neotestamentário a Graça é manifesta em Jesus Cristo em toda a sua plenitude, ou seja: imparcial, ampla e irrestrita; com o perdão de pecados, para a salvação eternal.

“E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça.” João 1:16

Equivale dizer: E todos nós recebemos do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o perdão de pecados pela Sua infinita misericórdia.

Isto é a Graça: a total remissão dos pecados humanos, para os humanos, obtida por um humano: Jesus Cristo, na cruz do Calvário.

 

Quando e onde a Graça foi apresentada, prometida?

Em Gênesis 3:14/15

“Então o Senhor disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda besta, e mais que todos os animais do campo; sobre teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida.

E porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”

 

O que a graça não é?!

Não é cura, não é libertação de demônios, não é prosperidade material, não é satisfação afetiva e nem mesmo ressurreição de mortos.

Jesus fez todas estas cousas e outras tantas mais; mas, não houvesse Ele nos tirado do vale da sombra da morte (do jugo da servidão da lei), morrendo na cruz (ferido no calcanhar), não teríamos a Graça.

“E quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, havendo riscado a cédula (a Lei) que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” Colossenses 2:13/15

Note-se bem: Jesus riscou a cédula, ou seja a Lei; tirando-a do meio de nós, cravou-a na cruz (matou-a). Logo, tudo que se fizer em nome de Jesus tem que se fazer em função do amor e motivado pelo amor, e não submeter-se à injunção da Lei. O apóstolo foi clarissimo ao dizer:

Ainda que eu falesse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa, ou o sino que tine. E ainda que tivese o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios da ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportesse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuisse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” 1ª Coríntios 13:1/3

E ainda indo mais além, ousaria dizer: Ainda que eu nunca pecasse e cumprisse todas as injunções da lei, sem amor e sem amar, de nada isto tudo me valeria.

Se aquilo que faço, e tudo o que vier a fazer, se o faço ou fizer porque a lei manda, invalido o sacrifício de Jesus, estou fora da Graça; logo, caí da graça.

A Lei tinha como pressuposto agradar a Deus por meio de holocaustos, sacrifícios, votos, dízimos, ofertas, guardas de dias, meses, luas, festas e tantas outras ordenanças.

Na lei, se nos cobravam estas cousas, na graça nos é cobrado somente o amar e perdoar, pois Jesus no resgatou das cobranças da lei.

A espinha dorsal do Evangelho é: amar e perdoar; pois, quem ama perdoa, e só perdoa quem ama, de fato ama.

A Graça tem, não como pressuposto, mas sim como lei: o pleno e irrestrito amor devido à Deus e devido aos homens.

Vejamos:

Um doutor da lei perguntou à Jesus qual era o grande mandamento na lei, e ele respondeu:

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas.” Mateus 22:37/40

Jesus enfeixa tudo debaixo de única lei, a lei do amor.

Em uma outra oportunidade, quando os fariseus lhe inquiriram se era lícito seus discípulos colherem espigas em dia de Sábado, lhes respondeu:

“Mas, se soubésseis o que significa misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes. Porque o Filho do homem, até do sábado é Senhor” Mateus 12:7/8

Declara Ele desta forma, àqueles fariseus, que nenhum preceito da lei poderá sobrepor-se à misericórdia, ao perdão e ao amor.

Eis uma clara distinção entre a Lei e a Graça.

A lei não salva, nunca salvou ou salvaria, ou desnecessário seria o sacrifício de Jesus, caso ela salvasse.

No amor se resume toda a lei e os profetas. Ou seja, a lei e os profetas serviram de átrio para a Graça.

Se o que faço, faço-o porque me mandam, e os que me mandam, dizem que é por força da lei, logo não estamos em Cristo, porque se vivemos pela lei não estamos sob a Graça e tampouco estamos livres.

“Se pois o Filho vos libertar , verdadeiramente sereis livres.” João 8:36

E o Filho é a Graça e é a Palavra, e a Palavra é o Evangelho, e o Evangelho é o Novo Testamento e os preceitos que se deve ouvir e seguir são estes que no Evangelho estão, e não os preceitos da velha, inócua e desvalida lei.

O Evangelho concede-nos a vida eterna; tão somente ele, e por uma vivência pautada nele, herdaremos o reino dos céus.

Evidentemente que o sacrifício de Jesus é soberano para a salvação, e a Sua misericórdia é infinita, e o arrependimento sincero e verdadeiro Ele jamais desprezará; mas é exigível ao crente, persistir  em viver segundo os preceitos do Evangelho, porque se assim não fora, não teria Jesus nos alertado da seguinte forma:

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos vcéus.” Mateus 7:21

“E porque me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” Lucas 6:46

“Mas aquele que perseverar ate´ao fim, será salvo” Mateus 24:13

Deus é amor, logo só agrada-se no amor. Qualquer liturgia que se faça, se não for amor, não tem valor, é só liturgia; seja de que credo for.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16

Se o Pai é Amor e Jesus é igual ao Pai, logo Jesus é Amor.

Se Jesus é o caminho, e a verdade, e a vida, logo o Amor também é.

Se ninguém chega ao Pai a não ser por Jesus, logo sem Amor não se chega ao Pai, e consequentemente não se adentrará ao reino de Deus. Porque também está escrito:

“Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo; como filhos obedientes. Não vos conformando com as concupiscências que antes havia em nossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” 1ª Pedro 1:13/16

 

Cair da Graça é: colocar liturgias, dogmas, preceitos ou conceitos eclesiásticos; doutrinas, tradições, costumes, e ou práticas da lei como fundamentais para a salvação; é prevaricar com a Graça.

Se assim não fora, não teria o apóstolo Paulo assim proferido:

“Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.” Gálatas 5:4

 

Cair da Graça, também é: descuidar do próximo, não só daquele que estando necessitado compartilha conosco o mesmo caminho (a mesma fé); porém, muito mais daquele que afastado da igreja está; à margem do caminho; e como igreja refiro-me ao corpo místico de Cristo.

A parábola do bom samaritano, indiscutivelmente assim esclarece-nos: que deve-se socorrer os caídos, gastar o que for necessário para recuperá-los; física, moral e espiritualmente. Lucas 10:25/37.

Não amar, não perdoar, não socorrer, não soerguer ao próximo, o qual também foi criado à imagem e semelhança de Deus, como poder-se-á, assim, agradar ao nosso único Criador?

Quem, pois, descuidar ou desprezar um próximo seu, assim o estará fazendo ao Senhor, que disse:

“Em verdade vos digo que, quando o fizestes (socorrestes) a um destes meus pequeninos irmãos a mim o fizestes.” Mateus 25:40

Com certeza, Jesus chama de irmãos à todos os seres humanos, irmãos na carne; pelos quais imolou-se.

Vemos à nossa volta, quantas são, e poucas não são, as igrejas que caíram da graça. Pois, têm elas como fim e não como meio: a fortuna, o patrimônio, a prosperidade material; e a hegemonia como meta.

Em consequência, dão aos seus fiéis uma visão distorcida do reino de Deus. Despertam-lhes, ainda que involuntariamente, a egolatria; dando-lhes a entender que a fortuna da igreja e dos seus membros, são as bênçãos maiores que Deus reservou para os seus.

Tomam Salomão como exemplo, porém, não esclarecem que a Salomão muita riqueza lhe fora dada, para que assim melhor pudesse servir e distribuir benefícios para toda Israel; e que para isto fora chamado, e não para se servir e ser servido.

Levam o povo a orar (e ou oram pelo povo) no monte Sinai, que fica na Arábia e não na Terra Santa Prometida, atendo-se, assim, a um concerto invalidado e substituído pelo Novo Concerto firmado com o sangue de Jesus no Monte Calvário.

Não queremos com isso dizer que o fato de orar, seja aqui, ali, ou acolá, seja inócuo, pois devemos orar sem cessar, conforme predito em 1ª Tessalonicenses 5:17

Porém, de uma maneira explícita ou implícita, estas igrejas entendem e dão a entender que é no monte onde foi firmado o velho concerto que se deve apresentar os votos e petições, como rotineiramente fazem; porque são credores de Deus, pois o obedecem segundo a lei. Se pela lei se vive, pela lei se reivindica; e onde o concerto da lei foi firmado, é onde ele deve ser honrado. E para aquele lugar (no monte Sinai) são levadas listas com os nomes e as súplicas dos que honraram ao Senhor com suas ofertas específicas, cobrando assim a assistência do Senhor segundo as promessas da lei.

Isto, a nosso ver, é cair da Graça.

Por outro lado, de que adianta ser sarado, ser liberto, ser próspero, estar de bem com a vida, e com esta vida, e estar nas fileiras de uma igreja rica e abastada, se com todos estes recursos (talentos conforme a parábola) não se investir em socorro aos necessitados.

“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquietai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito daí virá? Assim também é a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.” Tiago 2:14/17

Omitem a Lei de Cristo: “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.” Gálatas 6:2

Quando a Lei de Cristo é atendida por estas igrejas legalistas, e assim mesmo muito superficialmente atendida, é só para constar do cardápio; usando de uma analogia popular. Vê-se, então, quão longe da graça estão estas igrejas. Alguns, porém dirão: Deve-se socorrer somente aos domésticos da fé. Porém, relembro: se amais somente aos que vos amam, como assim se revelará em vós o amor de Deus? Porque Deus não faz acepção de pessoas. E mais, se assim procedeis, estais a julgar quem merece ou quem não merece ser socorrido, esquecendo-se deste modo, do que disse Jesus:

“Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo.” João 8:15

Evidentemente que se a cobiça, soberba, invigilância dos sentidos levar o homem a ser dominado pela concupiscencia da carne a consequência é a perda da graça, é o caso de não mais ser guiado pelo Espírito; conforme Gálatas 5:16/21.

Um exemplo típico encontramos na vida de Saul :

“Ora, o Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e o atormentava um espírito maligno da parte do Senhor.” 1º Samuel 16:14

É o apóstolo Paulo que, assim, nos adverte:

“Aquele, pois, que pensa estar em pé, cuida para que não caia.” 1ª Coríntios 10:12

 

 Por fim, tudo há de passar...

“O amor nunca falha: havendo profecias, cessarão; havendo línguas, desaparecerão, havendo ciência passará. (Igrejas também passarão). Três coisas permanecem: a fé, a esperança e o amor, mas o maior destes é o amor.” 1ª Coríntios 13:8/13

“Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não hão de passar.” Mateus 24:35

 

Certo é que:

“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vi abrogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.” Mateus 5:18

Porque, os que pela lei vivem, pela lei serão avaliados, mas os que estão em Cristo estes, já foram julgados, porque nova criatura são e pela sua Graça alcançaram a salvação.

“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor  de Deus e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém.” 2ª Coríntios 13:13

 

Vida e Paz.

Paulo Rogério Pires de Miranda

São Paulo - Brasil, Março de 2008

 

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas