Comentários ao artigo “Apocalipse e o cânon (CC)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

Em primeiro lugar, quero agradecer a todos que me enviaram os seus comentários e pedir desculpa aos que me enviaram comentários que não foram publicados, por se limitarem a testemunhos daquilo em que crêem.

Devo lembrar que a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas” é página de reflexão teológica. Assim, dito por outras palavras, não se destina a publicar aquilo em que cada um crê, mas os motivos dessa crença, devidamente fundamentados.

Sem de maneira alguma diminuir o valor desses testemunhos de fé pessoal, sugiro que os enviem para páginas que estejam vocacionadas para esse tipo de artigos, pois há muitas, que publicam todo o tipo de testemunhos.

Como o próprio nome desta página indica, não estamos limitados por qualquer dogma, declaração de concílio, ou tradição católica ou protestante.

Optamos por divulgar duas mensagens, com maior interesse teológico, que recebemos dos nossos irmãos Afonso Anciães Felício do norte de Portugal e David Oliveira de Goiânia, no centro do Brasil. Ambos já são conhecidos colaboradores desta página da internet e também a mensagem do irmão Daniel Bastos, por considerar uma típica mensagem do pensamento de muitos brasileiros.

Continuamos receptivos para outras mensagens dos nossos visitantes que não sejam simples repetição do que aprenderam na igreja, mas contenham informação que seja fruto da sua investigação pessoal e meditação teológica. 

 

 

Afonso de Anciães Felício

Porto - Portugal, 13 de Setembro de 2005.

Prezado Amigo Camilo Coelho,

Li o seu interessante estudo sobre o Apocalipse de João e o cânon neotestamentário, que agradeço.

Como me pede para enviar um comentário sobre este estudo, vou tomar a liberdade de o fazer. Não direi nada de novo para o Irmão que conhece bem a sua Bíblia.

Começo por lhe dizer que conseguiu elaborar um bom resumo histórico sobre este assunto, nomeadamente datas e acontecimentos sobre este tão apelativo tema. É muito pedagógico.

Vejo também que tem reservas sobre a “inspiração” de algumas passagens no Velho Testamento, nomeadamente aquelas que nos apresentam Deus, como guerreiro e destruidor de povos, que não são hebreus.

E finalmente, a sua opinião sobre o Livro de Apocalipse de João

No que diz respeito ao Deus que faz a guerra e manda destruir povos para na sua terra colocar o povo escolhido, devo dizer que efectivamente choca, hoje em dia, ler estas passagens. Modernamente, seria impensável com a actual formação das Nações, direitos dos povos, fronteiras físicas, etc.

Devo dizer que também fiquei sempre impressionado com estas passagens que revelam um Deus selectivo e castigador. Porém, lendo no Novo Testamento, ficamos a saber que Jesus rejeita esta interpretação dos judeus sobre Deus, duro e exigente. Jesus apresenta um Pai cheio de compaixão pela humanidade.

Jesus vai mais longe e denuncia as tradições dos judeus que foram introduzindo leituras humanas de acordo com os seus próprios interesses mundanos e cheios de arrogância. Mas Jesus também confirma que o Velho Testamento, as chamadas Escrituras, também revelam Jesus que falam de salvação e redenção e do anúncio de um Messias para salvar o povo dos seus pecados.

Isto é, Jesus avaliza a inspiração das Escrituras, porque diz que elas foram inspiradas. Claro que não apresenta muitos detalhes para todas as referências do passado. Hoje em dia, interrogamo-nos sobre os acontecimentos históricos do passado. O que sabemos é que Deus nos aparece como um Deus duro, o que provoca um sentimento de perplexidade.

No entanto, se lermos bem, constatamos que no caso de Josué, homem cheio de convicções e fé no seu Deus, Jeová, grande estratega militar, avança decidido para cumprir a promessa divina para a conquista da Jericó e toda a campanha das terras de Canan, a Terra Prometida, que “mana lei e mel”

Sabe-se que o povo começava a ficar cansado, querem terras para fixação, e querem ainda a formação de uma Nação, provavelmente influenciados pela esplêndida organização que viram no Egipto. Querem ainda formar família, em paz, dançar e divertir-se. Querem ainda adquirir cultura, com a sua literatura, poesia e canções. Mas para que o povo tivesse diante dele uma força anímica para a luta, nada como a religião que é o cimento vital para a coesão política e social.

Sabe-se que os hebreus, pobres e sedentos de progresso económico, não mataram em “chacina”, o povo cananeu. Eles mataram sim, os poderosos dissolutos e opressores e para isso encontraram aliados no próprio povo pobre cananita, que vivia à margem da riqueza e eram explorados pelos reis e sua corte. (Como vemos o mundo não mudou muito). A prostituta Rahab é o modelo do povo pobre oprimido, que não apoia o seu rei e os burocratas do reino que viviam faustosamente. Ela quer liberdade, para si e sua família. Quer sacudir de si a miséria que a oprime. Ela vê em Javé, o Deus do povo pobre hebreu, o sinal dessa liberdade.

Dizem os críticos bíblicos que o Livro foi escrito depois da era Josué e serviram propósitos nacionalistas e algumas passagens duras de ler. São artifícios literários para dar uma ideia de firmeza perante a idolatria.

 

Sobre o Apocalipse de João. Sempre considerei o Livro inspirado e a fazer parte da Bíblia Protestante e Católica. Tem uma mensagem específica e, segundo críticos, a mensagem foi escrita para animar a Igreja que sofria perseguições e, naquela Era, durante o reinado de um dos Imperadores romanos mais ferozes, Domiciano. (95 DC)

Dizem os especialistas que o Apocalipse foi escrito por um discípulo chamado também João, mas não o Apóstolo. Como na época era costume dar o nome de pessoas mais conhecidas, o Livro foi chamado Apocalipse de João. A Igreja primitiva porém atribuiu o Livro ao Apóstolo.

As imagens de que o Livro está cheio, são simbolismos que só a Igreja podia perceber. Em literatura os seus autores servem-se de artifícios para conseguir fazer passar mensagens. O Livro faz um apelo à devoção.

Mas, seja como for, no pequeno Apocalipse de Mateus, Jesus apresenta também uma mensagem clara sobre os acontecimentos dos últimos tempos, que impressiona e adverte. Jesus, a Palavra, o Verbo Divino, anuncia o colapso da presente Era, que dará lugar a um mundo novo, cheio de novas coisas e um novo destino para o homem. Apocalipse 21:5

Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou prepara-vos lugarJoão 14.2.

Não será este anúncio, um esplêndido incentivo ao estudo do Apocalipse?

Com amizade, envio os meus cumprimentos fraternos,

Afonso Felício

 

 

Ao prezado irmão Afonso Felício

Agradeço por ter abordado o assunto numa interessante interpretação dessas passagens mais difíceis do Velho Testamento.

Eu também conheço o livro de Milton Schwantes que suponho ter servido de base do pensamento do irmão Felício. Também comentei esse livro nos trabalhos do curso por extensão do Seminário Evangélico de Teologia, só que eu discordei do ensino desse autor. Vou juntar a seguir uma parte do meu trabalho como aluno desse Seminário, mas penso que esta diversidade de opiniões será proveitosa para valorizar esta página, que ao contrário da grande maioria das páginas de teologia na internet, não se destina a divulgar uma posição teológica, mas a fornecer variada informação para se sejam os leitores da nossa página a reflectir e tomar a posição que entenderem. É bem possível que outros visitantes da nossa página também intervenham, apresentando outras posições em face destes velhos textos.

Realmente, como o irmão afirma, várias vezes Jesus denuncia as tradições dos judeus que interpretavam as Escrituras do seu tempo (os rolos de pele manuscritos), de acordo com os seus interesses. Mas, Jesus também alterou muita coisa que está no Velho Testamento, por exemplo em Mateus 5:20/48 onde aparece várias vezes “Ouvistes que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo...”.  Ele tem autoridade, pois Jesus o Cristo é maior que as Escrituras.

Certo dia, numa conferência em que estavam presentes, representantes de várias religiões, inclusive da Sinagoga de Lisboa, deram oportunidade da assistência fazer perguntas, e eu perguntei qual a posição dos judeus portugueses dos nossos dias em face de certos mandamentos do Velho Testamento. Já não me lembro quais os que mencionei, e a resposta dele foi imediata: “Nós não seguimos por aí. Nós seguimos a Mishná.” Como sabem, isso é o livro com as suas tradições, que nunca consegui encontrar. Talvez não possa ser lido por incircuncisos como nós, mas admito que seja mais aceitável que o Velho Testamento.

O que mais me escandaliza em muitos dos livros veterotestamentários são muitos dos próprios mandamentos do deus dos judeus, que tenho muita dificuldade em identificar com o Deus Pai que Jesus nos revelou, pois se comporta como qualquer deus regional que luta pelo seu povo, contra todos os outros povos. Bem sei que a esta afirmação, muitos me dirão que é falta de estudo, mas eu queria dizer o seguinte: Eu também já afirmei que via uma perfeita sintonia entre toda a Bíblia, que havia um certo “fio condutor” do Génesis ao Apocalipse, simplesmente porque isso diziam os crentes espirituais e eu também queria ser “espiritual” como eles. Que o Senhor me perdoe a minha hipocrisia. Agora, depois de cinquenta anos de crente, voltei ao pensamento inicial de que só Cristo é a perfeita revelação de Deus.

Concordo com o irmão Felício que Jesus várias vezes se referiu às escrituras veterotestamentárias, mas nessa época não podemos pensar numa bíblia em forma de livro encadernado dos nossos dias. Cada “livro” era um grande e pesado rolo de pele manuscrito. O grande problema é que Jesus não nos disse quais os “livros” inspirados, e o cânon veterotestamentário só foi estabelecido pelos judeus na cidade de Jâmnia, no ano 90, já depois de Cristo. Assim, o termo “Escrituras”, no contexto histórico em que Jesus viveu, incluía os deuterocanónicos, rejeitados por judeus e protestantes, e até os apócrifos do Velho Testamento, livros rejeitados por judeus, católicos e protestantes. 

Não digo que o Velho Testamento não tenha grande interesse histórico, embora não com o rigor e imparcialidade dos bons historiadores dos nossos dias. Refiro-me à minha posição em face do Velho Testamento, no início do meu artigo David ou Davi, nomeadamente no ponto 2 desse artigo “Base do raciocínio”. Quando João Batista iniciou a sua pregação, fez estremecer toda a teologia veterotestamentária, mas quando Cristo apresentou a sua mensagem, todo o Velho Testamento se tornou deuterocanónico, isto é, menos inspirado do que a mensagem do “Logos”, a Palavra, que segundo o Evangelho de João, é o próprio Filho de Deus. 

Eu prefiro ficar com a informação de João 14:2, que o irmão refere, e outras passagens escatológicas dos evangelhos. Mas porque citar só o Apocalipse? (Julgo que se refere ao Apocalipse de João). Porque não, também o Apocalipse de Pedro? Será que acreditamos na infalibilidade do Papa e do Concílio de Cartago? Ou será por simples questão de tradição?

Vou juntar a seguir, parte do trabalho de investigação teológica a que já me referi, que fiz na disciplina de Teologia Antigo Testamento do curso que o prezado irmão Felício bem conhece, como resposta a uma questão que nos foi colocada na sétima lição dessa disciplina.

 

 

3. “O Deus de Josué é cruel. Num Deus que manda matar não posso nem quero acreditar. No mundo já há violência e intolerância que baste – as religiões deviam ajudar-nos a fazer a paz e não pregar a guerra.” 

- Comente esta afirmação na base do que estudou sobre Josué. (No livro de Milton Schwantes)

 

Ao ler este capítulo sobre a distribuição das terras, penso que Schwantes serve-se dos textos bíblicos para os forçar a dizer o que ele pretende e baseia-se no que “a pesquisa afirma”, considerando a base do seu raciocínio como uma verdade adquirida, sem se sentir minimamente obrigado a fornecer mais informação sobre o que, eu ainda poderia aceitar como uma hipótese, mas assim, não prescindo de suspeitar da veracidade da sua afirmação.

 

Penso que não é correcta a sua descrição dos israelitas como ex-escravos migrantes e solidários com prostitutas, pois passagens como Deuteronómio 22:21 e Levítico 21:9 não confirmam essa descrição. Possivelmente ele estará a referir-se a Raab no capítulo 2, mas trata-se dum caso isolado, em ambiente de guerra que não é correcto generalizar para afirmar que os israelitas eram solidários com prostitutas. Penso que Schwantes está a forçar os textos e a ignorar as regras da hermenêutica, servindo-se duma passagem isolada, arrancada ao seu contexto e ignorando as passagens didácticas sobre o assunto.

 

Ele continua a sua exposição, afirmando que:

1) A terra liberta não conhece reis depois da derrocada do feudalismo.

2) A cidade liberta passou a estar integrada na terra liberta. Acabaram-se os conflitos entre a cidade e o campo.

3) O feudalismo foi substituído pelo tribalismo. O capítulo 13 fixa os limites territoriais entre as várias tribos. Em cada tribo, não há uma classe citadina rica a impor os seus interesses, mas são os anciãos que governam.

4) A dimensão teológica e social mais profunda é o facto de estar garantido o acesso à terra para a família. A terra está liberta porque passou a ser terra familiar. Cada clã era constituído por 50 a 100 pessoas que trabalhavam em conjunto e colectivamente administravam o resultado da sua produção.

5) A terra era dada e não comprada.

 

Penso que estas afirmações de Schwantes, carecem de fundamento bíblico, porque:

 

1) A expressão “libertar uma terra” ou “libertar uma cidade”, é uma expressão figurada que significa libertar os moradores dessa terra ou dessa cidade. Se para Schwantes, libertar uma cidade é libertar os edifícios de todos os seus moradores, matando toda a gente, então tem razão, pois foi isso que a Bíblia diz que aconteceu, mas não me parece ser essa a ideia dele, pois refere-se a libertar o povo dos seus opressores, ideia que carece de fundamento bíblico. Pelo contrário, no livro de Josué encontramos várias passagens como Josué 3:10 em que o deus de Josué promete expulsar os cananeus, heteus, heveus etc, e não há qualquer referência que nos permita dissociar os governantes dos governados. Em Josué 6:21 afirma-se que todos os habitantes da cidade de Jericó foram mortos excepto a prostituta Raab e sua família. Em Josué 8:23/30 fala-se na destruição de todos os moradores da cidade de Ai. No capítulo 9 encontramos o relato dos gibeonitas que foram poupados, mas não libertados, pois segundo o vr. 21 passaram a viver para servir aos israelitas. Há muitas mais passagens que poderia mencionar, mas uma bem importante é Josué 10:40 que fala na destruição duma grande região, incluindo as montanhas, os rios os reis.. e para que não restassem dúvidas, esse versículo acrescenta ...nada deixou de resto; mas tudo o que tinha fôlego destruiu, como ordenara o Senhor, Deus de Israel.  Também em Josué 11:20/21 se vê nitidamente que o deus de Moisés mandou destruir a todos e afirma que ...Josué os destruiu totalmente, com as suas cidades. Também em Josué 13:6 podemos ler as palavras do deus de Josué: Hei-de expulsar da frente dos israelitas os sidónios e todos os habitantes da montanha, desde o Líbano até à nascente de Miserefot .... Não encontro qualquer separação entre classe dominante e classe oprimida como pretende Milton Schwantes.

 

2) Não encontro no livro de Schwantes, qualquer referência aos levitas, que de acordo com Josué 13:14, não receberam terra para cultivar. Segundo Números 3:39, ainda no tempo de Moisés, já havia 22000 levitas. Esse número certamente terá aumentado, e se juntarmos as suas mulheres e filhas, numa época em que era habitual a poligamia, podemos fazer uma estimativa de perto de 100000 pessoas que vivia do dízimo dos trabalhadores e não era classe produtiva. Segundo uma antiga afirmação de Josefo, na sua autobiografia Em outros povos, critérios diferentes determinam a nobreza; entre nós, é a posse do sacerdócio a prova de origem ilustre.

Certamente que esse substituir da aristocracia dominante no local pela tribo de Levi, não foi dum dia para o outro e entre Josué e Josefo, que foi praticamente contemporâneo de Cristo, vai um período de 1200 anos, mas por vezes mudamos o nome mas não a realidade das pessoas.

O historiador Joaquim Jeremias, que considero um investigador sério e competente, consegue reconstituir os nomes e “dinastias” dos vários sumo-sacerdotes através dos tempos, tal como seria de esperar dos reis.

Penso que após os moradores iniciais da Palestina terem sido exterminados, onde vigorava a monarquia, passou a vigorar a teocracia, interpretada pelos levitas da forma que lhes fosse mais favorável. Talvez possamos falar em “teocracia absoluta”, em que não havia liberdade de pensamento, muito menos de religião.

 

3) Penso ser necessária uma certa parcialidade para se aceitar que a terra foi dada e não comprada. Segundo o relato bíblico, tenho de concluir que a terra foi conquistada à custa do genocídio de todo o povo que lá vivia. Segundo vejo em Levítico 20:22 e Levítico 23:10 em princípio a terra é do Senhor que a deu, e não podia ser vendida com carácter definitivo. Nomeadamente o capítulo 25 de Levítico estabelece os casos em que os edifícios e os terrenos eram vendidos e remidos. Embora as traduções que consultei, falem em “vender”, julgo que na nossa linguagem jurídica seria mais o aluguer de longa duração ou a promessa de venda. Penso que toda essa preocupação em manter a terra na posse dos descendentes dos donos iniciais seria para preservar a distribuição da terra pelas várias tribos. Pelo mesmo motivo, as mulheres não podiam ser herdeiras e após o casamento passavam a pertencer à tribo do marido.

Penso que Schwantes apresenta o problema da distribuição da terra de forma um tanto superficial e ingénua, pois os terrenos cultiváveis não eram muitos e estavam bem demarcados. Em Deuteronómio estão previstas penas bem pesadas para quem mudasse a localização dos marcos no terreno, sinal de que o assunto não era muito pacífico.

Não prescindo de pôr em dúvida estas descrições efectuadas alguns séculos mais tarde. Claro que não tenho argumentos para provar seja o que for depois de tantos anos e depois de tanto se ter escrito sobre o assunto, mas não posso deixar de suspeitar de que se trate duma descrição preparada para dar “cobertura teológica” e de certa forma “legalizar” as atrocidades cometidas atribuindo-as a Deus, por estar acima de qualquer crítica humana.

Muitas vezes, ao longo da história universal, tem sido essa a função dos “historiadores oficiais” e da religião, inclusive na história de Portugal em que a religião sempre esteve presente.

 

Quanto à união de todas as religiões em favor da paz, penso que Schwantes não abordou o problema, mas o que encontro nos textos bíblicos em estudo é um deus anti-ecuménico que manda matar e manda arrasar todos os vestígios de outras religiões. 

Mas, penso que a pergunta da Professora está muito bem colocada, pois a teologia não pode desligar-se da realidade do mundo em que vivemos sem correr o risco de se tornar simples passatempo dum pequeno grupo que vive “nas nuvens”, que fala para as crianças da escola dominical, mas que nada de relevante tem a dizer à classe pensante dos nossos dias.

À primeira vista, a sugestão parece muito pertinente e muito aceitável. Pois se todas as religiões falam em amor, então, nada melhor do que juntar todas as religiões para se chegar à paz, tão desejada por alguns.

Mas, infelizmente, esta esperança, cedo se desfaz, se repararmos no contributo das religiões para a paz entre os homens, não só na época de Josué como na nossa época.

Logo de manhã, quais as notícias que nos chegam, pelo noticiário dos jornais ou pelo telejornal? É luta entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, mas podem dizer que é problema político e não são verdadeiros católicos nem verdadeiros protestantes. É a guerra na Palestina entre islâmicos e judeus, mas podem dizer que são motivos de luta pela terra e não é conflito religioso. É a guerra em Caxemira entre hindus da Índia e islâmicos do Paquistão, mas podem dizer que o conflito é pela posse de Caxemira e não é conflito religioso. Afinal, parece que a religião “se mete” em tudo que conduz à morte e violência. Talvez seja um escândalo, o que vou perguntar numa lição de teologia, mas: Se fosse possível ateizar (penso que a palavra não existe) toda esta gente, será que se conseguiria a paz?

Penso que não. Continuaria a haver guerra, pois o problema não é só religioso, mas a religião não deixa de actuar como um eficiente elemento catalizador da agressividade humana. Já Napoleão dizia que a religião era útil para dar mais agressividade aos seus soldados. Penso que sem a religião, a guerra continuaria, mas certamente com mais humanidade e talvez a paz não fosse tão difícil.

É bem verdade que as religiões duma maneira geral, principalmente as monoteístas, são utilizadas para fomentar as guerras tal como no tempo de Josué. Nos nossos dias, com o arsenal militar de alguns países mais “desenvolvidos”, é cada vez mais fácil provocar as horríveis destruições que o deus de Israel mandou cometer em Jericó ou em Ai com a destruição de todos os seres humanos e até animais. Isso já aconteceu em Hiroshima e Nagazaki e é provável que volte a acontecer.

Parece que o apelo do Mestre para amar os inimigos é esquecido quando mais necessitamos dele. Valerá a pena defender o cristianismo que temos, que já perdeu a sua alma, em que o Sermão do Monte é esquecido como coisa ultrapassada e por vezes as próprias igrejas, principalmente as que recebem subsídios americanos, são utilizadas para pressionar a opinião pública a favor da violência?

Duma maneira geral, penso que qualquer esforço pela paz mundial só poderá ser prejudicado pela religião, que para a classe pensante dos vários países que conheci, é considerada muito útil para entreter e controlar a opinião pública e desvia-la dos seus verdadeiros problemas. É melhor sermos nós os crentes os primeiros a dizer aquilo que já todos sabem. Ainda na semana passada, procurando na internet, notícias da propaganda eleitoral no Brasil, encontrei uma foto do interior duma sinagoga, com todos vestidos a rigor, com vestes compridas e boné de judeu e um discursava em lugar de destaque... Mas que é que isso tinha a ver com eleições? Seria algum Rabi candidato a Presidente do Brasil? Foi o que perguntei à Eng.ª Luciana, que colabora na minha página na internet. A resposta não se fez esperar. É o candidato José Serra, que aproveitou a festa do Yom Kipur para visitar uma sinagoga, vestido a rigor como se fosse judeu. Mas ele parece ser “ecuménico”, pois nas eleições anteriores, também foi ao Vaticano, beijar a mão do Papa e também foi a um congresso das Assembleias de Deus em São Paulo, onde não discursou, mas como assistente, foi “tocado pela pregação”, não se conteve a ponto de se levantar para gritar “Amem Aleluuuuuia”. Infelizmente, é esta a utilidade que grande parte dos governantes vê nas várias religiões.

Talvez algumas religiões, como o hinduísmo ou o budismo e até o verdadeiro Evangelho independente das grandes organizações, possam dar algum contributo para a paz, mas é preciso não esquecer que o cristianismo duma maneira geral, já perdeu a sua credibilidade quer em África quer no Oriente. Se os próprios países que se dizem de maioria cristã, não levam o seu cristianismo a sério, quem poderá acreditar na sua mensagem? Lembro-me de Lucas 18:8 ... Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?

Talvez esta seja a solução. Não só o crente tem de nascer de novo. Também o cristianismo tem de morrer, para que possa nascer de novo.

Camilo

 

 

David Oliveira

Goiânia – Brasil

 

Caro Camilo,

Acho que poucos crentes arrolados como membros de qualquer denominação religiosa irá comentar positivamente sobre o teu artigo. É que a “Palavra” está “engarrafada” dentro de cada instituição. “Por isso (Paulo) sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa..

Salvo honrosas exceções, está proibida (falam que não), toda a manifestação de expressão que vai de encontro às orientações intolerantes dos seus “líderes profetas”. Quando há alguém que diverge, logo é taxado de vários títulos negativos, dentro do ajuntamento. Herege, incrédulo, carnal, petulante, pecador, excomungado, endemoninhado, possesso etc. são os títulos dados àqueles que “questionam muito”, tal como na Idade Média. Interessante notar é que, quanto mais fundamentalistas forem essas instituições, menos seus dirigentes fazem bons e abertos estudos bíblicos para seus membros. Questionar é quase rebeldia e irresponsabilidade. O “normal” é ouvir uma doutrina, aceitá-la e ficar com a boca fechada.

Existem muitas “correntes doutrinárias” que interpretam o livro do apocalipse, cada uma de maneira diferente. Muitas igrejas passam anos sem o mencionar, com medo de fomentar confusões e escândalos. Honestamente falando, nunca tive uma posição definida a respeito daquelas visões.

Ouço muitas e diferentes mensagens interpretativas para cada símbolo, mas ainda não percebi uma unificação das interpretações. As sete cartas às Igrejas da Ásia, dizem, prefiguram, as sete igrejas, ao longo desse tempo, chamado da Graça. A última Igreja, a morna Laodicéia, é a figura da igreja atual; (mas nem todos aceitam isso).Que dizia: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia”. Apocalipse 1:11

Outra polêmica é a “grande mãe prostituta Babilônia” que é a igreja católica e suas filhas, que são as igrejas “evangélicas apóstatas”. E na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra”. Apocalipse 17:5.

Enfim, para nós, os pobres questionadores, só nos resta acreditar que o nosso bom e velho irmão João morreu sem perder suas razões e não teve em suas visões, surtos de caduquices ou que foi vítima de plágios nas cópias de seu apocalipse.

David

 

 

Prezado irmão David Oliveira

Sim, tens toda a razão ao afirmar que muito poucos crentes arrolados como membros de igreja, irão ou poderão impunemente comentar positivamente o que escrevi sobre o Apocalipse, simplesmente porque algumas afirmações contrariam os dogmas de suas igrejas. Infelizmente a palavra dogma, cuja etimologia significava simplesmente uma opinião ou um princípio de raciocínio, já adquiriu uma semântica bem semelhante à que tem num contexto cultural católico, duma afirmação que não pode ser contestada.

Quanto à interpretação dessa primeira parte do Apocalipse, com as cartas às igrejas, não encontro nada que me leve a relacioná-las com acontecimentos futuros. Isso, não são igrejas simbólicas, mas verdadeiras igrejas com pessoas que de facto existiram. Esses locais ainda existem na actual Turquia. Tanto quanto nos for possível, devemos interpretar as palavras segundo o seu sentido habitual nessa cultura, sem querer encontrar mensagens que são fruto duma fértil imaginação do pregador, mas não do autor dos textos.

Não aceito que a “grande mãe prostituta Babilónia” seja a Igreja Católica. Isso é uma influência, que pode estar, tanto no catolicismo como em qualquer outra igreja.

Tens toda a razão ao afirmar que a “Palavra” (que no contexto da tua afirmação, não tenho dúvidas de que seja o ensino e o pensamento de Cristo), está presa, condicionada, deturpada por grande parte das instituições religiosas onde na maior parte dos casos já não há liberdade de expressão. Verifico que essa deturpação, tal como no Velho Testamento, sempre se destina a tornar mais rentável essa “indústria religiosa” em que muitas igrejas se estão transformando.

Penso que o protestantismo dos nossos dias apresenta algumas semelhanças com o catolicismo do quarto século, logo após Niceia, quando se tornou religião oficial do Império Romano para passar a perseguir todas as outras religiões. Como aconteceu com a Igreja Católica Romana nessa época, em que impôs arrogantemente a sua autoridade às igrejas ortodoxas, também coisa semelhante se está passando com igrejas do mundo ocidental, que querem liderar e “ajudar” as igrejas que consideram mais fracas, no Oriente e em África. 

Infelizmente, o “período áureo” do Protestantismo, que se seguiu à Reforma de Lutero, em que a Bíblia foi colocada nas mãos do povo, para que todos tivessem acesso às origens para que a pudessem estudar, período de liberdade de expressão e de interpretação, que também teve certamente os seus exageros, está ultrapassado. Embora ainda sobrevivam algumas igrejas do protestantismo histórico, já não têm o vigor desses dias, e as igrejas ditas “evangélicas”, estão mais preocupadas com a “formação” dos seus pastores e crentes do que, com a livre investigação do pensamento de Cristo. Emprego a palavra “formação”, com o significado que lhe atribuo no meu artigo Porquê tantas igrejas (denominações)?

Vivemos numa época em que as igrejas ditas “evangélicas”, parecem caminhar para alguma coisa parecida com o Catolicismo Medieval, onde não é mais tolerada qualquer divergência com a posição doutrinária dos seus dirigentes “quase” infalíveis, que decidem qual a versão teológica oficial dessa igreja.

Infelizmente, penso que é bem verdadeira a tua afirmação de que: Quando há alguém que diverge, logo é taxado de vários títulos negativos, dentro do ajuntamento. Herege, incrédulo..... pecador etc.

Gostaria de comentar alguns destes termos. Isto que dizes é muito importante para mim, pois não quero que a minha página na internet, a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológica” se torne em alguma coisa perecida.

Certamente que a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas” é uma página de, e para pecadores. Geralmente esses “santos” de igreja, não demoram muito tempo na nossa página, pois não estão habituados a meditar em teologia.

Quanto aos incrédulos!!!.... Será credível que incrédulos percam tempo com a reflexão teológica? Talvez, mas penso que bem poucos incrédulos estudam teologia. É bem possível que se tenham tornado incrédulos, depois de conhecerem certo tipo de “crentes”. Mas esse tipo de incrédulos conscientes, que meditam na teologia, são bem vindos à minha página. Prefiro um incrédulo consciente, que medita na teologia, ao “crente” arrogante, que se limita a dizer o que ouviu do seu pastor, ou aprendeu no Seminário,

Quanto aos hereges, fui investigar o significado da palavra “heresia”.

A palavra “hairesis” em grego, que deu heresia na nossa língua, significava simplesmente uma escolha. É o que encontramos em Levítico 22:21 onde aparece “hairesis” referindo-se “às dádivas escolhidas por eles”, que muitas versões da Bíblia traduziram por “ofertas voluntárias”.

Já no Novo Testamento, se nota uma certa evolução do significado da palavra heresia. Em Actos 15:5. Lucas utiliza a palavra “seita” (secta) em vez de “hairesis”, a heresia (= escolha ou opção teológica) dos fariseus. Também se nota em II Pedro, que essa heresia (= escolha) se referia geralmente a uma má escolha.

Mas onde a palavra heresia adquiriu a semântica que manteve até aos nossos dias, foi na época do Concílio de Niceia no ano 325, quando a Igreja se associou ao Governo do Império Romano e teve condições de impor o cristianismo a todo o território e inclusivamente perseguir todas as outras religiões e destruir os templos do paganismo. Foi neste contexto histórico, em que foi abolida a liberdade de religião e liberdade de pensamento, que a heresia, que num contexto de teologia significava simplesmente uma outra opção teológica, tomou o significado de um grande pecado que deve ser exterminado severamente, incluindo a pena de morte.

 

Muitos pagaram com as suas vidas, o simples facto de meditarem na mensagem do Mestre e terem tomado uma opção teológica, diferente da que era aceite pelas “autoridades religiosas” de sua época. Foi também este o caso de cientistas que chegaram a conclusões que contrariavam os ensinos dessas autoridades religiosas. Muitos respeitáveis pensadores e cientistas deram as suas vidas pela liberdade de pensamento, às mãos de teólogos católicos ou protestantes, como foi o caso dos anabatistas e do reformador Castélio.

Fiz estas referências à história para poder afirmar que na nossa página, a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas” reconhecemos o direito à heresia, pois heresia significa uma escolha, ou neste caso uma opção teológica.    

Só é possível falar em heresia, com a semântica que adquiriu nos nossos dias, onde não houver liberdade de expressão e liberdade de discordar.

A nossa página na internet não está condicionada por nenhuma igreja ou linha doutrinária. Que o Senhor nos ajude a meditar na mensagem, que nos enviou pelo seu próprio Filho, libertos das tradicionais fronteiras teológicas.

Camilo

 

 

 

Daniel Bastos

Rio Grande do Sul - Brasil

 

Olá irmão Camilo:

Que a Paz do Senhor Jesus esteja contigo e sua família.

Quero comentar duas coisas a respeito do Artigo sobre o livro de Apocalipse. Por vezes a ciência e a história testificam a autenticidade da Palavra de Deus mas Ela por só, que é viva, revela-se a nós para que todos sejam uma unidade em Cristo Jesus.

Eu estava escutando uma rádio pela internet e era o momento da leitura bíblica. O locutor leu um trecho que está em MARCOS 9:1 - Dizia-lhes também: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegado o Reino de Deus com poder. Neste momento recebi uma revelação sobre quem escreveu o livro de Apocalipse. Somente o Apóstolo João poderia tê-lo escrito já que ele viu em visão antes de morrer a Cidade de Jerusalém vindo com grande Glória.

Como já havia dito sobre a ciência e história elas ajudam a testificar a Palavra de Deus mas temos que ter cautela sobre a letra pois o muito conhecimento pode matar a fé.

No trecho de APOCALIPSE 10:9-10 está assim descrito: E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. E tomei o livrinho da mão do anjo e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo. Este homem estava tendo uma visão, ele estava em espírito a conversar com o anjo. Por revelação entendi que a boca quer dizer o corpo físico e o ventre quer dizer a alma (corpo espiritual). Por vezes podemos testemunhar a Palavra de Deus com a nossa boca ou com os nossos corpos, mas, por vezes, sofremos perseguições por causa dela, então, aonde é amargo este sofrimento? Na alma!

Pode ser que na Grécia antiga existissem poções que faziam tais alusões mas prefiro crer no que escrevi no parágrafo acima. Ele tem mais a ver com o que Deus quer mostrar nesta passagem do que a ciência e a história tem mostrado.

Espero que tenha contribuído ao senhor. Que Deus o abençoe.

Daniel Bastos.

 

 

Obrigado irmão Daniel por este comentário ao meu artigo sobre o Apocalipse de João.

Como disse na introdução desta secção onde estão as várias reacções a esse artigo, a minha página, a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”, é página de reflexão teológica. Assim, dito por outras palavras, não se destina a publicar aquilo em que cada um crê, mas os motivos dessa crença, devidamente fundamentados.

Claro que esse fundamento deverá ser nos textos bíblicos, arqueologia bíblica, ou em dados científicos ou históricos etc... Mas, defender uma posição teológica com fundamento numa “revelação sobre quem escreveu o livro de Apocalipse”?!!

Penso que uma teologia séria e responsável, não se pode basear precipitadamente em revelações. O espiritismo é que se baseia em revelações. Isso não tem nada de teologia, muito menos teologia séria.

Aquilo que afirmo no ponto 3 do meu artigo sobre o Apocalipse, ou seja, os critérios para incluir um livro no cânon, que era utilizado no primitivo cristianismo, também de certa maneira se pode e se deve aplicar a todas as nossas convicções teológicas, pois vivemos numa época fértil no aparecimento de novas ideias e novas teologias baseadas em visões e revelações dos pastores e “apóstolos” dos nossos dias, que nada têm de comum com os verdadeiros Apóstolos que deram as suas vidas pela mensagem do Senhor.

Sou a favor da liberdade de expressão, coisa que por vezes está faltando nas igrejas evangélicas, mas a minha página na internet, não se destina a publicar revelações ou afirmações baseadas em revelações, tão ao gosto de algumas igrejas evangélicas brasileiras.

Eu geralmente não publico os testemunhos que me enviam.

Inicialmente publiquei alguns testemunhos de experiências religiosas, mas depois decidi apagar todos os relatos de experiências religiosas. Tomei essa decisão, não só porque isso não está nos objectivos da minha página, como porque não gosto de fazer censura doutrinária, e se alguém me enviasse um testemunho duma cura efectuada por determinada bruxa ou por qualquer das muitas religiões afro-brasileiras que abundam nas regiões mais pobres do Brasil, quais os critérios para publicar uns testemunhos e omitir outros? Assim, preferi não publicar testemunhos de crentes, de todas as religiões, que envolvam visões, revelações, curas etc. Não estou a dizer que isso não possa ser verdade, embora geralmente tenha sérias dúvidas nesse tipo de testemunhos que geralmente se destinam a exaltar a pessoa que tem essas revelações ou a colmatar a falta de sérios argumentos teológicos. Cada um é livre para acreditar no que entender, mas o objectivo da minha página na internet, não é a publicação desse tipo de artigos.

Mesmo assim, desta vez, resolvi publicar a sua mensagem, pois penso que é um exemplo típico do pensamento de muitos crentes evangélicos brasileiros, e eu já esperava e até compreendo essa reacção, pois conheço alguma coisa do Brasil.

Queria ainda comentar a afirmação de que “o muito conhecimento pode matar a fé”.

Então, qual é a doze certa de conhecimento? Quem decide esse importante pormenor?

Mas, em certos aspectos, isso talvez seja verdade.

O simples facto das igrejas evangélicas no Brasil terem um crescimento explosivo nas classes mais pobres e com pouca cultura, e ao mesmo tempo uma grande dificuldade em alcançar a classe pensante brasileira, parece confirmar essa afirmação.

Também na Europa se nota uma grande diferença entre a fé dos crentes da idade média e da Europa secularizada dos nossos dias. Na nossa universidade mais antiga, a Universidade de Coimbra, que funciona desde 1308, ainda há a capela privativa do Reitor da universidade, que actualmente ainda se mantém devido ao seu valor histórico. Na idade média, o reitor duma Universidade, era sempre um sacerdote encarregado de fiscalizar as outras ciências. Penso que é o mesmo pensamento do prezado irmão Daniel. Só foi possível o desenvolvimento das ciências, quando estas se libertaram da tutela da religião. Aliás, com essa liberdade das ciências, veio também a liberdade da própria teologia poder investigar e questionar os seus dogmas e revelações.

Mas então, se “o muito conhecimento pode matar a fé”, qual a solução para levar todo o Brasil a Cristo? Se amanhã houver um Presidente do Brasil que seja evangélico, será que deveria encerrar todas as Universidades, para que o conhecimento não matasse a fé?

Penso que tudo depende da fé que tivermos. Ou será que estamos a chamar de fé, ao que não passa de simples superstição? Ou chamamos de fé à atitude heterónoma de certo tipo de “crente” que segue obedientemente o seu pastor (quase) infalível, pois confunde conversão com “suicídio intelectual”?

Considero-me crente em Cristo e só em Cristo. Realmente, nesse ponto, em parte estou de acordo com o irmão Daniel. Já sou crente antigo e há mais de 50 anos que medito nos textos bíblicos. Realmente, o conhecimento levou-me a descrer em primeiro lugar dos profissionais da religião e da maior parte das igrejas, e até de muitos textos bíblicos veterotestamentários, que considero como um relato da história de Israel, com um certo fundo de verdade, mas sem a tão desejada imparcialidade dos historiadores dos nossos dias.

Como é que Jesus disse em Mateus 7:15/23? É pelo folclore religioso, pelas músicas e linguajar evangélico que se conhecem os verdadeiros pastores? Ou será pelos seus frutos? Quais os frutos que a grande maioria das igrejas tem produzido através dos tempos? Cada vez me convenço mais de que só Jesus é a Palavra de Deus, pois só a sua mensagem resiste a todo o tipo de conhecimento.

Quem quiser, que acredite nos apocalipses, ou então, que seja fiel à decisão do Concílio de Cartago e ao Papa Bonifácio, aceitando somente o Apocalipse de João, e não o Apocalipse de Pedro nem o Apocalipse de Paulo, que possivelmente rejeitam, sem nunca os terem lido, por simples questão de fidelidade a uma decisão do Papa. Eu prefiro ficar só com os evangelhos e epístolas, como era no primitivo cristianismo.

Espero sinceramente que o jovem irmão Daniel reveja a sua ideia de que “o muito conhecimento pode matar a fé”, pois isso pode conduzir a consequências desastrosas, com aconteceu no passado.

Esse tipo de fé, que não resiste ao conhecimento, quanto mais depressa o abandonarmos, melhor para nós, para que possa prevalecer a verdadeira fé no Cristo que Deus enviou ao mundo, não só para salvação do homem, mas também para sabermos que Ele existe e como Deus é.

Saudações fraternais do         

Camilo

 

 

 

De XXXXX XXXX

Do interior centro do Brasil.

 

É extremamente lamentável que através do seu texto “Apocalipse e o cânon neotestamentário” o senhor lance abundantes sementes de dúvidas sobre as Escrituras Sagradas. Fica aqui o meu veemente protesto. Não tens autoridade nenhuma para plantar o germe da descrença no tocante aos cânones bíblicos. Assim agindo, fazes o jogo descarado do adversário das nossas almas. Não está escrito que quem subtrair alguma coisa do Livro de Apocalipse não terá parte no Reino de Deus? Como não tens temor? Arrotas arrogância pseudobíblica inadmissível. Converta-te, homem, e sê verdadeiramente sábio, com a sabedoria do alto; ela é pura, tratável, pacífica, cheia de misericórdia e bons frutos; não é facciosa, nem hipócrita, nem ostenta ardente inveja. A paz de Deus.

XXXXXX XXXX

 

Resolvi acrescentar mais este exemplo que vem confirmar o que diz o ir. David Oliveira: Salvo honrosas exceções, está proibida (falam que não), toda a manifestação de expressão que vai de encontro às orientações intolerantes dos seus “líderes profetas”. Quando há alguém que diverge, logo é taxado de vários títulos negativos, dentro do ajuntamento. Herege, incrédulo, carnal, petulante, pecador, excomungado, endemoninhado, possesso etc. são os títulos dados àqueles que “questionam muito”, tal como na Idade Média. Interessante notar é que, quanto mais fundamentalistas forem essas instituições, menos seus dirigentes fazem bons e abertos estudos bíblicos para seus membros. Questionar é quase rebeldia e irresponsabilidade. O “normal” é ouvir uma doutrina, aceitá-la e ficar com a boca fechada.

É mais um triste exemplo dum fundamentalista fanático, fruto dum contexto cultural onde só há liberdade para dizer amém. Não dá para comentar mensagens destas, pois é mais um que confunde conversão com suicídio intelectual.

Suprimi o nome dele, para que não se possa orgulhar de ter enviado uma mensagem para a minha página, como certamente desejará. Também não menciono o nome da sua igreja, pois não sei se tal atitude arrogante e intransigente será uma boa amostragem dos crentes dessa igreja. Mas certamente que, se estivéssemos na Idade Média, daria um bom inquisidor.

Estas igrejas não merecem a liberdade que têm.

Que o Senhor livre o Brasil de alguma vez ter um Presidente evangélico fundamentalista.

 

Camilo – Marinha Grande, Portugal

Março de 2009

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas